– E aí fica me ligando e me chamando de gorda, doida, falsa sabe? O que eu faço?!
– Entendi. Muito bem, tem várias coisas para fazer, vamos começar com a “básica” ok?
– Tá.
– Como você reage que a pessoa liga e te chama de gorda?
– No começo não liguei muito, mas agora fico chateada, quero revidar, mas não sei como. Na verdade não sei se consigo e isso me frustra!
– Entendi. Porque você acha que não consegue revidar?
– (…) no fundo é porque tem coisas que a pessoa fala que eu também falo para mim mesma sabe?
– Humm, entendi, por exemplo?
– Doida e falsa eu sei que não sou, mas o “gorda” me pega…
– Entendi. Bom, vamos lá: o que seria um peso ideal para você? Como vocês saberia que está num peso bom?
– Hum… difícil dizer… mas acho que se eu tivesse um manequim 40 estaria muito bom.
– Perfeito! O que seria um manequim de gorda?
– Algo em torno de um 56, 58 eu acho!
– E o seu está aonde?
– Estou vestindo um 44.
– Beem longe de um 56 não é?
– É.
– Ótimo, agora eu quero que você faça assim: Crie duas telas de tv na sua frente e imagine em uma a imagem de uma pessoa com manequim 56 que para você é a gorda, na outra a do manequim ideal para você: 40 e entre elas a sua no manequim 44.
– Ok, já fiz.
– Ótimo, agora imagine ele te ligando e dizendo que você tem o manequim da tela de 56 e compare com o que você é e decida por si só: ele está dizendo a verdade ou está “viajando”?
– Viajando completamente!
– Perfeito, como você reage com uma pessoa que está viajando completamente?
– (Risos) Eu tenho uma atitude cômica, acho engraçado quando alguém “viaja” e “viajo” junto sabe?
– Sei, humor é ótimo nesses momentos.
– Eu diria algo sem nexo assim como ele está dizendo para mim sabe? Tipo: daí seu ouriço do mar, tudo bem?
– Ótimo, o importante é você manter esta distinção e responder de acordo entende?
– Entendi sim. Ele pode me chamar do que ele quiser, mas só me afeta se bater com o que eu mesma penso de mim.
– Isso aí.
Bullying é algo que sempre existiu e vai continuar existindo. Todos os seres humanos degradam outros seres humanos em suas falas e atos é só ver os horários políticos para checar isso. A grande questão à respeito de como tratar a violência não é “proibi-la” como tem se feito propaganda, mas sim instrumentalizar as pessoas para que elas saibam como reagir à violência, como dar limites, como não se identificar com o que o agressor diz, como buscar ajuda quando necessário, como responder à uma acusação falsa, como manter sua auto-confiança e auto-estima. Isso sim nos ajudará a lidar com o bullying e não ficar falando “feio” para aquele que comete o bullying – até porque quem comete o faz, geralmente, porque também é vítima! A grande resposta para a violência não é proibi-la, mas sim dar ao violento novas formas de poder conviver com suas dificuldades pessoais que é a causa real da violência – genericamente falando.
No exemplo acima, foi trabalho exatamente isso: competência. O cliente aprendeu a ter um critério próprio sobre seu peso e a defender esta percepção, no próxima semana quando perguntei sobre a pessoa que fazia as ligações o cliente me disse que falou “e aí ouriço-do-mar” a pessoa ficou muda do outro lado da linha, desligou e não ligou novamente. Aprender a se defender, ter competências sociais ao invés de vitimizarmos ainda mais as vítimas de bullying é o caminho.
Abraço
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