• 9 de maio de 2016

    Emoção sustentável

    – Eu simplesmente não falei nada.

    – De novo?

    – De novo.

    – Bem… o que podemos esperar?

    – Um pouco já estou sentindo.

    – O que é?

    – Eu já estou mais fria na relação, olhando para ele com desdém sabe?

    – Sim, vai manter-se nessa escolha?

    – Akim, o que eu posso fazer?!

    – Já discutimos várias atitudes que você pode ter, qual vai preferir?

    – Não sei… é complicado.

    – Complicado já está, mas pode piorar.

    – É… eu sei…

     

    Muitas pessoas fazem escolhas emocionais que tem um custo muito alto. Saber gestar suas emoções envolve compreender que toda escolha possui consequências que devem ser refletidas pela pessoa.

    Muitas vezes, frente à questões de escolhas emocionais, as pessoas me dizem “Ah Akim, quer saber? Fica assim mesmo”. Quase sempre que escuto esta frase ou similares sinto um calafrio, como num filme de terror. Em primeiro lugar porque há uma desistência de agir sem nem mesmo terem tentado uma solução e, em segundo, porque quase sempre a escolha feita pela pessoa não é sustentável.

    Mas, como assim “sustentável”? A noção de emoção sustentável é muito nova e tem a ver com o impacto que a escolha emocional feita por nós tem em nossa vida psíquica. Algumas escolhas como, por exemplo, manter-se em um casamento ruim, sem fazer nada para mudar, trazem um impacto muito nocivo, que agride e destrói o “ambiente psíquico” para fazer uma analogia com a ecologia.

    Assim, uma escolha emocional se torna sustentável a partir do momento em que o impacto que ela traz é saúde emocional e psíquica, uma emoção que ajuda a construir caráter e auto estima ao invés do contrário. Nem sempre uma escolha emocional é fácil, simples, traz prazer ou não exige esforço, por isso, estes critérios não são úteis para entender uma escolha como “sustentável”.

    Por exemplo, é fácil esconder aquilo que sente e não revelar sentimentos dentro de um casamento. Também é fácil não agir quando percebe que algo não está bom para você afim de não causar conflitos. Fazer esta escolha, no entanto, irá agir contra o seu ambiente psicológico por vários motivos. Em primeiro lugar porque você estará construindo uma relação baseado na desonestidade, em segundo lugar porque terá que lidar sozinho com algo que é do casal e em terceiro porque as emoções que podem surgir na relação em decorrência da escolha (como raiva do conjugue) serão nocivas à relação.

    Fácil de um lado, complicado de outro. A escolha não se sustenta porque traz mais desprazer ainda, ela não resolve o problema de uma forma adequada. Por outro lado, a escolha de revelar sentimentos e buscar soluções em termos de convívio para satisfação de ambos é sustentável porque ela melhora a relação e pode ser empregada novamente para melhorar a situação ainda mais. Já esconder sentimentos não é porque, em geral, as pessoas não conseguem esconder suas emoções por muito tempo e terminam por revelá-las em situações completamente inadequadas como brigas.

    Uma escolha emocional é qualquer tipo de escolha que surja por causa de uma emoção ou que traz emoções em relação à ela. Esta definição abrange muitas escolhas que tomamos no nosso dia a dia, o que mostra o quão importantes são essas escolhas. Para que elas sejam sustentáveis, a pergunta que você tem que se fazer é se você poderá manter os resultados daquela escolha no futuro afim de repetir a escolha em outros momentos. Aprender a revelar emoções, por exemplo, é algo que pode sempre ocorrer em uma relação saudável e que ajuda a relação assim como a própria pessoa a se definir. Esconder pode ser uma escolha sustentável também, no caso de estarmos diante de alguém que não confiamos ou que sabemos, de alguma forma, que nos quer algum mal. Não há escolha que é, por definição, sustentável ou não, mas sim escolhas dentro de situações, mediadas pelos valores e desejos de cada um.

    Abraço

     

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