– Não consigo, não sei como fazer isso.
– Fazer o que?
– Isso que você fala: ouvir ele.
– Porque não?
– Porque eu sei que é um “bla bla bla querida” só para me fazer ficar com dó e ele tripudiar em cima de mim depois.
– Como você sabe disso?
– Ah, é sempre assim… pessoas são assim.
– Que pessoa foi assim com você?
– Todo mundo.
– Você sente isso aqui, comigo?
– Não.
– Então, não é todo mundo. Quem, especificamente magoou você fortemente com isso?
– (silêncio) Em casa… sempre era assim em casa… por isso que eu sai… fugi… sei lá…
O que é controle? O que é ser controlado por alguém? É realmente possível alguém ter o poder sobre nós ou isso é apenas “coisa da nossa cabeça”? O tema propicia uma série de questões para a nossa reflexão e a influência disso sobre como nos relacionamentos é maior que podemos pensar.
A ideia de ser ou não controlado por alguém é um subtema de “poder”. Em relacionamentos o tema poder surge com uma força enorme por um fator muito importante: todos temos nossos medos ao estar nos relacionando com alguém. Cada um de nós tem medo de algo dentro de uma relação, um ponto fraco ou uma situação com a qual não sabe lidar. Isso é normal e advém do simples fato de que seres humanos não podem estar preparados para tudo.
Outro fato é que cada um de nós teve aprendizados quando criança em relação à nossa família de origem. Toda família tem que lidar com o tema do poder: quem pode ou não fazer algo, quem decide, quem “manda” na família? Todas essas perguntas se mostram na forma de regras não-ditas que absorvemos ao longo dos anos e transformamos em comportamentos, pensamentos, emoções e, principalmente, nossa identidade.
No caso do controle, existem pessoas que tem aversão a se sentirem controladas. Podem ter tido vários aprendizados ao longo de suas vidas nos quais aprenderam que não ter o poder significa ser controlado. São controladores, pessoas que tentam, de várias formas, criar uma relação hierárquica na qual eles estão sempre por cima, qualquer coisa que, na percepção deles, ameaçe esta hierarquia se torna, automaticamente, uma afronta.
Existem pessoas que fazem isso de maneira sutil. Elas fazem comentários sobre o comportamento do outro que deixam a entender que algo está faltando, pedem para “discutir” um tema quando na verdade querem dizer o como a pessoa deve se portar, se calam em determinados momentos e ouvem com uma cara de desaprovação. Outros são mais duros e tentam mandar à força e na base de uma coação mais diretiva, estes exemplos são fáceis de ver.
Todos estes percebem algo em comum: uma ameaça na espontaneidade do outro. Aprenderam, quando crianças que deveriam obedecer quem fala com eles. Alguns resolveram obedecer mesmo, outros revoltaram-se, mas o aprendizado de que a voz do outro é uma voz de comando permaneceu. Essas pessoas não conseguem, por exemplo, ouvir uma opinião contrária a sua sem entender isso como uma afronta, rapidamente precisam compreender: quem vai ganhar esta disputa.
O ponto é o que o outro (seja ele quem for: pai, mãe, filho ou conjugue) se torna um competidor contra o qual ele deve lutar afim de garantir a sua condição de “liberdade”. As aspas são para lembrar que o que essa pessoa busca não é liberdade, mas sim controle e hierarquia na qual ela manda. Há uma diferença entre ser livre e estar acima de alguém, esta diferença não foi compreendida por estas pessoas que precisam estar por cima para se sentirem livres.
A liberdade por eles desejada só é alcançada quando se libertam da percepção do outro como um algoz. Ver o outro como uma pessoa que pode me aprisionar me faz ver-me como alguém que pode ser aprisionado. Daí a luta eterna que esta pessoa tem, porque não é com o outro o problema e sim com a terrível posição na qual ele próprio se coloca ao ver o outro como um aprisionador.