– Mas não vai ser bom Akim.
– Eu sei, diria mais: será doloroso para você.
– Então porque eu deveria fazer isso?
– Porque não?
– Porque vai doer oras!
– E daí?
– Como assim “e daí”?
– A vida é só prazer?
A dor é uma sensação difícil de ser encarada, tendemos a fugir dela e das coisas que podem nos causar dor. Embora útil a fuga nem sempre é a melhor solução e, por vezes, precisamos aprender a enfrentar a dor.
Sentimos dor de duas formas diferentes. A primeira delas é uma lesão direta em algum tecido, como um corte em nossa pele, por exemplo. A segunda forma é o que chamamos de “dor emocional”, uma sensação de dor causada por uma contratura da musculatura que nos lembra a dor. As duas formas de dor não precisam ocorrer ao mesmo tempo e é possível ter a sensação de dor enquanto lesão e deixar de lado a dor emocional, este é um aprendizado comum para praticantes de yoga.
Esta distinção é importante porque a reação que temos em relação a dor pode ser igual para ambos os tipos de dor. Enquanto é útil, por exemplo, tirar a mão de uma chapa quente porque dói (e não vai adiantar nada manter a mão na chapa), a dor emocional é diferente.
Pode ser doloroso dizer para um conjugue que amamos que a relação com ele está ruim e que pode terminar caso não se faça nada para mudar a situação atual. Pode ser ainda mais doloroso se o conjugue concordar e dizer que sente o mesmo. Neste caso, não estamos falando da dor enquanto sensação de lesão nos tecidos, estamos falando em dor emocional. Para esta dor, para este estímulo, a fuga da dor não irá ajudar, ou se enfrenta a situação ou ela irá consumir a relação (gerando mais dor no futuro).
Em outro caso, no entanto, a fuga pode ser uma resposta adequada. Sair de perto de um (famoso) vampiro emocional, dando-lhe limites bem nítidos pode funcionar. Neste caso, “lidar” com a situação é diferente do primeiro. Dependendo de quem é o vampiro e de seu lugar em nossas vidas simplesmente sair de perto dessa pessoa pode ser considerado uma reação adequada e a dor emocional causada pela relação com ele, aliviada.
Saber quando enfrentar a dor não é, apenas, uma questão de coragem. É importante avaliar se, de fato, vale a pena enfrentar a situação ou se simplesmente sair de perto dela pode ser uma solução viável. Em relação a fuga, eu parto de uma pergunta simples: é sustentável a decisão de evitar a situação?
Para responder esta pergunta é importante saber do que estamos fugindo ou o que estamos evitando. Então, evitar falar com uma pessoa bêbada na rua que resolveu nos atormentar e que, provavelmente, nunca mais vamos ver na frente, pode ser uma decisão sábia. O mesmo ponto se torna mais complicado se o “bêbado” é seu irmão ou pai, com quem você terá que lidar mais tarde. Nesse exemplo, o que está sendo evitado é a pessoa.
Porém, ainda no mesmo exemplo, podemos focar no comportamento de dar limites. Se tenho problema em dar limites para pessoas abusivas ou intrusivas falar com o bêbado e aprender a dar limites a ele pode ser uma decisão mais interessante do que simplesmente fugir dele, porque preciso desse aprendizado para outras situações. Perceber do que estamos fugindo e verificar se poderemos fugir disso sempre sem consequências para nós é um critério que nos ajuda nesse momento, lembrando sempre que embora fugir da dor seja algo viável, nem sempre é a melhor solução.
Abraço