• 16 de setembro de 2016

    Deixar para trás

    – Mas Akim, ele nunca faz nada que eu quero.

    – Eu sei, mas você não deixou claro o que você quer.

    – Mas precisa? Eu faço tudo por ele: cuido da casa, dos negócios dele, sou companheira.

    – Isso é muito bom, mas o problema é que você não está fazendo aquilo que quer. Tem vivido a vida dele, adaptado-se à ele mesmo sem desejar isso.

    – O que eu faço?

     

    Atualmente conformar-se é visto quase que sempre com maus olhos. Achamos que a pessoa que se conforma é, na verdade alguém que não quer lutar pelo que é seu. Porém, existem virtudes associadas ao ato de estar conformado que precisamos exercitar da maneira adequada.

    Conformar significa ceder, porém, também significa harmonizar. A combinação destas duas palavras trazem o ato de conformar-se para um patamar distinto daquele que temos como padrão em nossa maneira de pensar, a saber, da pessoa que releva tudo e sempre se vê numa situação ruim.

    O mais comum que vemos são pessoas que são negligentes com elas mesmas e confundem isso com serem conformistas. Ceder sem critérios não é sinônimo de conformidade e sim de negligência. Assim sendo esta distinção é importantíssima quando se quer determinar se o ato que estou tendo é conformidade ou negligência em relação ao que quero e preciso.

    Conformista é, então, aquele que se conforma, porém, a diferença do conformista e do negligente reside no fato de que o primeiro sabe com o que quer se conformar, ou seja, o ato de conformidade é uma decisão, enquanto que o segundo apenas “vai com a maré” e termina por aceitar condições que não são favoráveis para ele (em geral, reclamando muito depois). O “bom conformar-se”, então, envolve ter ciência daquilo que se deseja, do que a situação permite e, por fim, das consequências de sua decisão.

    Agora vou trabalhar este conceito em relação ao tema das perdas ou daquilo que é deixado para trás em nossas decisões. Isso porque boa parte das pessoas que se dizem conformistas estão na verdade abrindo mão de coisas importantes para elas sem estarem fazendo uma boa troca.

    Antes de abrir mão de alguma coisa você precisa verificar o quanto esta coisa é, de fato importante para você. Meu conselho, inclusive é: se algo é realmente inegociável para você, não abra mão. Em geral, o que procuro trabalhar com as pessoas é verificar o que de fato é importante naquilo que nos é importante. Podemos mudar o “o que” ou o “como” fazemos algo e continuar nos nutrindo daquilo que é importante para nós.

    Por exemplo, se gosto muito de jogar futebol porque me sinto bem depois do jogo o que é importante para mim, talvez seja a sensação física que o esporte produz. Posso trocar isso – caso necessário – por corrida, bicicleta ou outro tipo de esporte. Porém se aquilo que é importante é o contato com determinado grupo e local, a coisa se complica e talvez seja importante que eu não abra mão do meu futebol.

    Porém, todos sabemos que a vida, muitas vezes, não nos oferece a possibilidade de negociação e temos que abrir mão de algo que é importante para nós. Nesse caso torna-se fundamental aprender a deixar algo para trás. Se a circunstância não oferece nenhuma, absolutamente nenhuma maneira de conseguir total ou parcialmente aquilo que nos é importante, é hora de parar de pensar nisso e pensar em como podemos nos virar sem o que precisamos afim de atenuar ao máximo a perda que teremos.

    Porém, neste caso é importante lidar com a perda. O que boa parte das pessoas fazem é aceitar a condição sem lidar com a perda, terminam, então, passando boa parte da vida reclamando de algo que não podem mais ter. É importante entender que se você não pode ter algo, não pode ter algo. Para isso, também é necessário ter uma boa avaliação da situação antes de julgar que você realmente não poderá ter algo (isso é um “conformismo responsável).

    Por fim, nunca faça barganhas que não são diretamente complementares. Muitas pessoas abrem mão de elementos importantes de suas vidas “em troca de” algo, mas cometem dois erros: não avaliam se o que estão barganhando realmente garante aquilo que querem obter e não comunicam o outro da barganha.

    Em um exemplo típico é aquela pessoa que para de fazer uma atividade que adora porque sabe que o conjugue quer, por exemplo, passar mais tempo com ele. A pessoa espera reconhecimento na forma de presentes que não vem e se zanga com o parceiro. O problema é duplo: parar de fazer algo que quero e esperar ganhar presentes por isso não é uma relação direta, sem informar o conjugue desse desejo, fica ainda pior o cenário (este é o conformista negligente).

    Abraço

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