• 26 de outubro de 2016

    Você realmente quer o que quer?

    – Me diga então, o que você quer fazer?

    – Ai Akim não sei, é difícil saber.

    – Não é não, você já decidiu.

    – (Fica em silêncio olhando para mim com um semblante preocupado)

    – Você já sabe o que quer fazer faz algum tempo e esse é o problema porque você não consegue aceitar esta decisão.

    – (Ela chora) É verdade.

     

    Muitas pessoas dizem que não sabem aquilo que querem. Na prática muitas dessas pessoas sabem, mas não conseguem sustentar suas decisões, com isso, encontram formas nada saudáveis de manter velhas escolhas. Porque fazemos isso?

    Enquanto nossos problemas ficam no “nível mental”, ou seja, enquanto ficamos apenas ponderando sobre eles existe certa tranquilidade em relação aos impactos que eles podem causar em nossa vida. Quando as pessoas pensam em soluções para aquilo que as incomodam e se mantém apenas pensando elas se mantém em uma estranha zona de conforto.

    Porque “estranha”? Porque não se trata de conforto de fato, mas sim de conformismo em relação à uma situação que pode ser mudada, mas que exige da pessoa atitudes e decisões para ser mudada. Muitas vezes o problema está aí e não na decisão de realizar a mudança e nem de como fazê-la. É com certa frequência que encontro no consultório pessoas com planos estruturados durante anos e que nunca foram colocados em prática.

    Colocar um plano em prática significa, em primeiro lugar, comprometer-se com ele. Esse ponto é o que faz muitas pessoas darem um passo atrás. Compromisso com a nossa maneira de pensar e desejo é um tema delicado para muitas pessoas que tem problemas de segurança ou de baixa auto estima. Se não confio em mim plenamente, porque confiaria em um plano elaborado por mim?

    O segundo passo é agir. Aqui vários problemas podem surgir: medo de confrontos, de se sustentar sozinho, de ficar sozinho e, principalmente, medo da responsabilidade. A ação é a segunda parte depois da elaboração de um plano. Se a pessoa não sente confiança em sua ação ou não sabe como fazer alguma coisa ela pode se segurar. Outra condição que impede as pessoas de agirem é uma exigência alta demais, na qual ou tudo sai perfeito ou não adianta tentar, em geral, essas pessoas nunca tentam.

    O terceiro passo envolve uma questão de personalidade. Muitas pessoas conseguem perceber que a situação na qual se encontram é prejudicial para elas e até mesmo sabem como sair. Porém o que as envolve nessa situação é mais profundo que comportamentos ou inteligência para bolar um plano para ir de encontro à uma nova vida. Elas estão presas porque se percebem de uma maneira (auto imagem) na qual “precisam” da situação que tanto as fere.

    Esta metáfora é um tanto tosca, mas serve para entendimento: é como se a percepção que a pessoa tem de si fosse como uma peça de lego, ela só encaixa em determinadas peças e não em outras. Assim sendo, mesmo que o encaixe traga dor e sofrimento, este é o único que ela consegue perceber como possível.

    Um exemplo clássico é da pessoa que tem auto estima baixa e acha que deve “ser mais” para ser amada. Em geral, tende a entrar em relações que exigem demais dela, com o tempo sente-se sufocada e tende a querer sair da relação, mas não consegue. O motivo de não conseguir sair não é falta de percepção e nem de como agir, mas sim do fato que a relação alimenta uma percepção neurótica da própria pessoa. Em outras palavras ela crê que merece uma relação como aquela por ser quem é e não consegue largar a relação disfuncional porque, no fundo, ela é funcional.

    A funcionalidade da relação é trágica porque alimenta algo nocivo, algo que mantém a pessoa enjaulada e sentido-se mal, porém, ainda assim é a visão que a pessoa tem de si. Este motivo precisa de trabalho em relação à auto estima porque a pessoa tem que se perceber como merecedora de algo melhor e isso não em um nível de discurso (não adianta ficar falando “eu mereço” na frente do espelho apenas) é necessário realmente sentir. A compreensão da maneira pela qual a personalidade é estruturada se faz uma boa ferramenta para aprender a lidar com as demandas neuróticas que a pessoa tem assim como estruturar novas formas de se perceber e agir.

    Com isso fecho o post de hoje, resumindo que não fazemos o que queremos em geral por três motivos: não saber sustentar aquilo que queremos, por não confiar na nossa capacidade de criar um plano e finalmente porque, lá no fundo, acreditamos que merecemos aquilo que nos causa algo ruim. Para você, é qual?

    Abraço

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