• 28 de setembro de 2016

    Gostar x admirar

    – Mas eles gostam de mim.

    – O que os faz gostar de você?

    – Ah, eu sou divertido, inteligente, sempre trago novidades ao grupo.

    – E como eles reagem?

    – Pois é… isso que não entendo direito, porque eles gostam, mas parece que falam mais do que eu trouxe do que de mim.

    – Sim, mas é isso que você quer.

    – Não! Eu queria que eles gostassem de mim pelo que eu faço.

    – Você quer, então, ser admirado pelas suas contribuições e isso é diferente de eles gostarem de você

    – Hum…

     

    Muitas pessoas querem ser amadas, desejam a aprovação e aceitação dos outros. Porém, confundem ser amado ou bem quisto com ser admirado. Essa confusão pode trazer muitos transtornos desnecessários. Você sabe a diferença entre ser bem quisto e admirado?

    O desejo de ser amado e ter um lugar de pertencimento dentro do grupo é básico para os seres humanos. Porém há limites para até onde podemos avançar nesse desejo afim de manter uma auto estima saudável. Quando estes limites são negligenciados, a tendência é que nosso lugar no grupo seja envolto em ansiedade, raiva ou tristeza. Ter limites adequados significa ter consciência da importância dos outros em nossa vida e do que precisamos fazer para manter a nossa auto estima em ordem.

    Quando a auto estima está bem desenvolvida, temos o desejo por ser bem quisto, ou seja, o desejo de que as pessoas gostem de nós. Este desejo, em geral, é reforçado pelo nosso ato de gostar de alguém. Neste caso, o gostar está envolvido com aquilo que somos, não há pressão para que desempenhemos um papel ou função, o afeto trocado é feito de maneira livre entre as pessoas. A pessoa entende-se como um estímulo que merece ser bem quisto.

    De outro lado, quando nossa auto estima não está bem alinhada, buscamos o desempenho como forma de encontrar nosso lugar nos grupos. Esta percepção carrega ansiedade e muito esforço porque determina que a pessoa só irá encontrar seu lugar no grupo ou em uma relação à dois mediante o esforço e desempenho. Este tipo de relação se estabelece com o dar e receber de determinados comportamentos que se tornam dignos de afeto.

    Porém, a pessoa com baixa auto estima possui um grande medo em se mostrar tal como é. Assim sendo ela deseja colocar algo entre ela e as pessoas, algo que a proteja e ao mesmo tempo possibilite o seu lugar no grupo. O problema é que esse algo (que pode ser um conjunto de comportamentos ou alguma posse) é o que acaba criando a relação e não o encontro entre as pessoas.

    É como se eu não me percebesse como uma pessoa digna de ser amada. Então creio que deveria ser divertido, inteligente para conseguir o meu lugar no grupo. Ao buscar contato com as pessoas, vou colocar estas características na relação (e não eu mesmo). Com o tempo é possível que as pessoas gostem de mim – ou melhor dizendo: gostem das características. E então entramos na zona da admiração.

    Podemos admirar ou ser admirados pelo que fazemos, mas isso não significa que gostam de nós enquanto pessoas. Amar ou gostar da pessoa é diferente de admirar alguém pelos seus feitos. Ambos podem co-existir, mas são de fundamentos diferentes. O gostar tem a ver com o ser e o admirar com o fazer, não há nada de errado com um ou o outro, mas a diferença é importante de ser ressaltada porque muitas vezes a pessoa usa uma estratégia de admiração querendo atingir o gostar e não se dá conta de que são elementos diferentes.

     

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