– Estou louca pra ter um filho.
– Porque?
– Ah… que chegou a hora sabe?
– O que te faz ter essa sensação?
– Eu estou bem profissionalmente, meu marido também. A gente se olha de vez em quando e falamos quase que juntos: quero algo mais.
– Sei… que bacana, estão em uma sintonia bem boa não é?
– Sim! E eu sempre quis ser mãe, acho que está na hora por causa disso sabe?
– Perfeito.
A cena acima é um dos poucos momentos, enquanto terapeuta, que vi alguém fazendo a escolha de ter um filho com critérios bons e bem definidos. Em geral, as pessoas escolhem ter filhos por motivos como “quero companhia” ou “algo para agitar a relação”. Que critérios você julga interessantes para ter um filho?
Crianças não são soluções para os nossos problemas, pelo contrário, trazem os problemas de desenvolvimento delas para que nós, adultos, encontremos soluções. Assim sendo, qualquer critério que envolva a criança na solução de qualquer tipo de problema do adulto é um critério negativo. O motivo pelo qual ele se torna negativo é que coloca uma expectativa completamente descabida sobre a criança que está vindo ao mundo (quem gostaria de começar sua vida na função de solucionar um problema que você nem sabe se será capaz?).
Todo pai gera expectativas sobre um filho, isso é esperado. A questão é se estas expectativas são adequadas ou não. Pensar em uma criança, é pensar no desenvolvimento de um ser, nesse sentido cada pessoa terá uma versão da realidade. Porém, dizer isso não significa que todas são válidas ou adequadas, pelo contrário existem visões que são muito perniciosas para as crianças, outras que podem ser muito interessantes.
Uma percepção não muito comum, mas que tem ganho certo lugar de destaque em minhas percepções sobre criação de filhos é o de “conhecer a criança”. Pode parecer estranho, mas o fato é que o filho é um desconhecido. O temperamento, o desenvolvimento da criança não poderão ser antecipados pelos pais que vão descobrir quem a criança é. Pais que tem mais de um filho tendem a ver isso com mais clareza ainda. Assim, na verdade criar um filho é, também, descobrir esse filho, entender com a experiência quem é a criança.
Será a criança mais quieta ou extrovertida? Mais atenta ao mundo ou mais introspectiva? Muito do comportamento de uma criança é aprendido e muito há de componente genético. O temperamento é uma dessas características. Ao longo do tempo aprendemos a ver isso nas crianças e aprendemos a lidar com elas. Este critério (o de conhecer o filho) é um dos que considero interessantes sobre ter um filho porque ele se adapta maravilhosamente nos “trabalhos” de ser pai e mãe.
Responsabilidade também é um critério que julgo importante. A ideia de programar o momento da vinda de um filho me parece adequado principalmente se você percebe que não tem condições adequadas (quando digo isso, me refiro a condições econômicas, psicológicas, sociais e emocionais). Ser responsável nesse contexto significa preparar-se minimamente para ter um filho, entender as necessidades emocionais e físicas de uma criança para sentir o mínimo de segurança para conhecer quem será seu filho.
Estes dois critérios acima são bem básicos, mas são um norteador. Acredito que muitas questões podem ser transformadas se as pessoas desejarem filhos, ao invés de acharem que devem ter filhos. Crianças são novos humanos em desenvolvimento por isso merecem nosso respeito antes de virem ao mundo e quando nele chegam.