– Ele é o problema da minha vida Akim!
– Sim… sua relação com ele realmente foi muito triste.
– Não… não é a “minha” relação. É ele!
– Entendi, você acha que ele é o problema.
– Claro que é!
– Então até ele falecer sua vida será um inferno.
– Como assim?
– Se “ele” é o problema… ele é o problema oras.
Crianças aprendem que existe o bem e o mal. Dividimos o mundo naquilo que é bom e naquilo que é ruim. As crianças, com o tempo, começam a ter dúvidas quando vêem algo ruim causando o bem. E os adultos?
Depende do adulto. Quando temos adultos “de fato”, a postura de que existe “o” bem e “o” mal e que essas duas classes são sempre estanques e padronizadas é tida como motivo de chacota. Adultos “de fato” reconhecem que as coisas e as pessoas são o que são e que não adianta dividir o mundo entre os cavaleiros do apocalipse e os salvadores da pátria porque, no fim, isso é apenas uma ilusão.
Durante muitos anos não entendia a concepção do “pecado original”. Achava a ideia radical demais, pois tinha em mim uma crença romântica que versa que o homem é bom por natureza. Anos mais tarde finalmente compreendi a mensagem que o pecado original traz: o homem é capaz do bem e do mal. E não é que, ao nascer, a pessoa escolhe ser do bem ou do mal e ponto final. A questão é muito mais complexa e complicada que isso.
Temos a capacidade do bem e do mal a vida toda durante toda vida. Isso significa que ao longo de nossa existência vamos precisar tomar cuidado. Essa é a ideia que está por detrás do pecado original e que, hoje, me parece muito verdadeira. Ninguém é virtuoso “per se”, virtudes são desenvolvidas e exigem esforço. Assim sendo, são mais resultados do que causas de comportamento.
Porém, quem crê no bem e no mal como formas puras não vê a questão dessa maneira. Tudo o que vier da pessoa “ruim” é ruim e o tudo o que vier da pessoa boa é bom. Essa ingenuidade é perigosa porque descontextualiza a pessoa de seu meio e as ações de seus resultados práticos e consequências levando toda a discussão para um jogo ideológico (ou doutrinário).
O desejo de separar o mundo em “bem e mal” é de organizar uma estrutura rígida e dar segurança às nossas atitudes. Parece perfeito que, ao entender que algo é bom eu apenas faça o bom e o mundo será lindo e maravilhoso. Porém a vida não é assim, mesmo aquilo que é bom pode ser destrutivo. Água demais afoga. Nenhuma característica é desprovida de: contexto, motivação e resultados. Apenas a análise de tudo isso pode nos dar uma evidência mais concreta de que – segundo alguns critérios – algo foi “bom” ou “ruim”.
O problema é que realizar esta análise dá muito trabalho e exige muita responsabilidade. É mais fácil demonizar um lado e endeusar o outro. Esta, porém, é exatamente a atitude que dá início à movimentos extremistas, fenômeno que está se alastrando pelo mundo nesse momento. Ao mesmo tempo é a atitude que dá liberdade e mais compreensão sobre o que realmente ocorre em nossas vidas.
Abraço