– Daí eu disse para ele: como que é? Eu sou arrogante?
– E ele?
– Ele disse “sim”, assim, na cara dura.
– E você?
– Eu me senti humilhada né? Imagina, eu arrogante!
– Mas você é!
(silêncio)
– Como assim eu sou? Concordando com ele agora?
– Sim, o que ele disse está adequado, logo concordo.
– Agora eu sou a arrogante então, o problema é todo meu?
– Não disse isso, apenas disse que você fica, de fato, tentado fazer coisas que não consegue, sabe que não consegue, mas, ao invés de pedir ajuda, insiste no erro apenas para não “manchar sua imagem” de sabe tudo. Isso é arrogância.
Muitas pessoas são arrogantes e nem sequer se dão conta disso. Esta característica é facilmente confundida com humildade, benevolência, amor ao próximo e, por esta razão, torna-se difícil compreender que se é arrogante, ao mesmo tempo, é muito fácil sentir os problemas que isso traz à pessoa.
Em primeiro lugar é importante compreender melhor o que é arrogância. Culturalmente associamos esta característica com a pessoa que “se acha”, ou seja, aquela pessoa que exibe suas características, posses e conquistas perante os outros. Isso não é arrogância. Este comportamento de exibição só pode ser chamado de arrogância se aquilo que é exibido for mentira. Assim sendo, só é arrogância dizer que eu sou inteligente, se eu não o for, caso contrário, afirmar que sou o que sou é sinal de (pasmem) humildade.
No seriado “Roma”, Marco Antônio pergunta à Júlio César se ele não está sendo arrogante perante as manobras políticas que deseja realizar. Júlio César responde que será arrogância se ele falhar. A arrogância está presente na incapacidade de sustentar uma posição, fato, característica. O arrogante é aquela pessoa que tem uma imagem de si e de suas competências em dissonância com o que ela é ou pode de fato. Existe um abismo entre o que um arrogante diz ser capaz de fazer e o que ele, de fato, é capaz.
Assim sendo, podemos ter essa característica em muitos discursos aparentemente inofensivos. Por exemplo, quando temos uma criança ou adolescente dizendo que quer muito ajudar os pais a se entenderem. Isso é arrogância, pois, quase sempre os filhos são incapazes de realizarem esta tarefa pelos pais (sem contar que não é uma tarefa que lhes pertença, portanto a arrogância é dupla, visto que se estão se metendo onde não são chamados).
Outro exemplo típico é do “ajudador”. Muitas pessoas tem a pretenção de serem cuidadores do mundo e partem para ajudar qualquer pessoa que faça uma reclamação perto deles. Isso é um comportamento arrogante porque, em primeiro lugar, percebe a reclamação do outro como um pedido de ajuda e nem sempre este é o caso. Segundo, porque se coloca na posição de ajudador do mundo, e, obviamente ninguém é capaz de ajudar todo mundo. Terceiro, porque, geralmente, a pessoa ao invés de “ajudar”, de fato, quer “fazer pelo outro” e ninguém pode tomar o destino de outra pessoa nas mãos.
Assim sendo, como saber se sou arrogante? Em primeiro lugar verifique a sua auto imagem. Quanto mais você se colocar como figura prioritária, indispensável na vida de terceiros ou para a realização de alguma coisa na vida de terceiros, a probabilidade de você ser arrogante aumenta.
Veja se aquilo que você diz que está fazendo está ocorrendo de fato. Muitas pessoas dizem que querem ajudar o outro, mas passam-se os anos e o outro não mudou nada, ou seja, você não está ajudando. Aceitar isso é mais doloroso do que continuar “tentando”.
Perceba como você escuta os problemas dos outros. Se sua tendência natural já é ir encontrando soluções, colocando-se de maneira ativa na resolução, pare e de um passo para trás. Pergunte-se: a pessoa está me pedindo ajuda? Quanto mais difícil for, para você, de responder essa pergunta, maior a probabilidade de ser arrogante.
Também é interessante ver como você trata suas habilidades. Existe uma relação entre a competência que você diz ter e os resultados que atinge no mundo concreto? Quanto maior for a relação, menos você é arrogante. Em geral, arrogante tem muita dificuldade em medir o que fazem em termos de resultados concretos.
Por fim, cabe verificar como você lida com a frase: deixe o outro viver os resultados de suas próprias escolhas. Quanto mais simples for de aceitar isso, menos arrogância. Quanto mais difícil, mais. Deixar o mundo seguir é difícil para o arrogante, que se crê senhor (secreto) do mundo.
Abraço