• 16 de junho de 2021

    Muitos interesses podem ser falta de interesse

    – Daí eu resolvi fazer o curso.

    – Porque?

    – Como assim porque?

    – O que você quer com esse curso?

    – Ah, alguma coisa a gente sempre aprende.

    – Sim, mas para que esse curso é importante?

    – Ah, não é que é importante, mas… ah, é legal né?

    – Qualquer coisa é legal dependendo do ponto de vista. Para que esse curso?

    – Ai Akim, não sei… sei lá… nem pensei…

    – Então vamos pensar.

    Ter uma grande variedade de experiências não reflete necessariamente riqueza de conteúdo. Embora isso possa soar paradoxal, não é. Entenda porque neste artigo.

    Vivemos em uma era na qual a quantidade de experiências é muito importante, ou pelo menos é isso o que se prega. Na realidade a quantidade possui certos limites. Quando rompidos, estes limites apenas atrapalham ao invés de ajudar. Assim sendo “quanto mais” nem sempre “melhor”.

    As pessoas que possuem interesses demais, na verdade, terminam por se configurar, quase sempre como pessoas que não sabem direito o que querem. Assim sendo “se interessam” por tudo. Na verdade o problema é falta de foco. Não conseguem definir o que lhes é importante, nem porque e, com isso, terminam por associar-se à tudo o que “cai no colo”. Como hoje em dia, “tudo” cai no nosso “colo virtual”, é muito fácil a pessoa se perder nesses mares de “tarefas”, “interesses” e “direcionamentos”.

    Há diferença entre interesse e curiosidade. A primeira é marcada por um senso de compromisso, enquanto a segunda se trata de um impulso. A curiosidade é importante para o desenvolvimento do interesse, porém, por si só, ela não é uma virtude. A curiosidade gera perguntas, porém, fazer isso sem um direcionamento apenas deixa a pessoa tonta com a quantidade de perguntas que ela pode fazer sobre o mundo (além do risco de fazer perguntas ruins).

    Sempre que ouço alguém dizendo que tem muitos interesses, me preparo para ajudar a pessoa a trabalhar com limites, definição de metas e prioridades e, principalmente: interesse. Definir nossos interesses não é importante porque alguém disse que tem que ser assim. A importância disso se dá pelo fato de que sem o interesse ficamos quicando por aí, como bolas de pinball: sendo arremessados de um lado para o outro de acordo com o lugar onde caímos e não de acordo com aquilo que desejamos atingir.

    O erro é crer que “aprender” sem interesse é o mesmo que aprender. Não funciona assim. Aquilo que não é de nosso interesse não se gruda em nossa memória e é rapidamente esquecido. Assim sendo pessoas que fazem muitas coisas sem atribuir-lhes sentido, sentem – quase que invariavelmente – que não aprendem nada. De certa forma estão certas. Sem o compromisso com o que fazem, não é possível se desenvolver mesmo.

    Neste caso o problema é dar um passo para trás e responder a “terrível pergunta”: O que eu quero da minha vida? É importante responder-se isso ao invés de negligenciar esta pergunta dando como desculpa que “tudo pode mudar”, “quem sabe o que vou querer amanhã” ou “e se eu mudar de ideia”. Essas frases são, na verdade, desculpas para não assumir compromissos. Esta fuga se mascara de maneira linda com um monte de atividades e pseudo conhecimentos, ou seja, coisas que a pessoa até sabe, mas que não lhe fazem grande diferença.

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