• 16 de maio de 2017

    Unindo partes

    – Eu estou com medo Akim.

    – Eu sei, sinta esse medo.

    – Não, não gosto de me sentir assim… não gosto disso.

    – Então negue isso.

    – É difícil, parece que isso também me dói. Eu me sinto forte agora, mas falso.

    – Exato… falso porque existe o medo.

    – O que eu faço?

    – Sinta o medo.

     

    Criar e expressar quem somos é uma jornada com muitos desafios. Talvez um dos mais complexos seja integrar as partes que tentamos excluir. Aquilo que negamos, reprovamos ou temos nojo sobre nós mesmos.

     É algo escorregadio, sombrio, sutil. É algo que está ali, sabemos que está ali, mas preferimos fingir que não está. Queremos lutar contra isso. Tirar, excluir, jogar fora. Tentamos e falhamos. Não aprendemos a lição e ficamos sem forças. Desistimos momentaneamente e reunimos forças. Quando nos sentimos fortes tentamos, novamente, excluir aquela parte estranha e asquerosa. Falhamos.

    Porque falhamos? Pois aquilo que desejamos jogar fora é exatamente uma de nossas verdades. Não temos como jogar fora, não há como “vencer”, pois apenas em nossa visão limitada existe uma batalha. Na realidade de nossa mente, não existe batalha nenhuma, nós é quem cremos na batalha. Lutamos porque acreditamos que deveríamos ser de uma determinada forma, assim, quando o eu que de fato somos apresenta algo estranho à crença que temos de nós, nos sentimos temerosos ou atacados e com isso, lutamos.

    A guerra começa a ser vencida quando paramos de lutar. Ao aceitarmos aquelas partes que não gostamos ou que tememos é que algo pode começar a ocorrer. Como disse anteriormente, na mente não há guerra, as partes sabem que existem e não vão deixar de existir só porque o nosso “eu” não as quer lá. O “eu” chegou “depois”, ele não tem tantos direitos quanto acha que tem. O grande problema do “eu” é que ele é um servo que se crê senhor e, então, começa a querer dar ordens. Por isso ele falha.

    O amadurecimento do eu envolve o reconhecimento deste fato. Depois disso, o eu torna-se mais humilde e passa a aceitar aquilo que existe. Começa a entender que sua função não é ditar como tudo será e sim ajudar a criar algo com todas as partes que existem dentro de nós. Então começa o caminho da criação e expressão do eu. Este caminho sempre envolve as surpresas sobre nós mesmos. É interessante pensar que as pessoas querem “descobrir” quem são, mas não querem “surpresas” (não seria o ato de descobrir justamente o ato que nos leva às surpresas?).

    Este é o principal desafio: assumir a falta de controle, abraçar a surpresa. A força se constrói a partir da fraqueza. Apenas aquele que reconhece suas fraquezas pode construir força. O mesmo vale para todas as outras características. Tudo aquilo que negamos é uma parte de nosso desenvolvimento que permanece atrofiada. Por sinal, ser capaz de aceitar que fazemos isso conosco também é fundamental, pois nos ajuda a compreender que cada parte de nós vem em um determinado momento. Quanto mais nos abrimos à este ritmo e consciência, mais ela floresce.

    Quando o eu entende que ele é mais uma parte e que todas as outras, mesmo as que tememos e desprezamos são importantes ele aprende a abraçar a surpresa. Integrar aquilo que é estranho e doloroso ao invés de expulsar. Este é o caminho que nos leva à construção. Ao integrar é possível criar elos, encontrar lugares adequados ao que há. Quando expulsamos e segregamos precisamos destruir partes nossas e com isso criamos guerras internas que nunca serão vencidas.

    Abraço

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