– Akim, você não tem ideia de como é se sentir assim.
– Talvez não… como é?
– É saber que você nunca, nunca vai poder sentir aquela emoção de ser acolhido e bem quisto.
– Uau… que passado poderoso você tem. Nunca mais? Então ele ter lhe rejeitado, te exclui do “rol” de pessoas aceitas?
– Falando assim até parece exagero da minha parte.
– É exagero.
(silêncio) – Porque? Não acha que doeu.
– Acredito que “doeu”. No passado. E hoje, porque você ainda revive, todos os dias aquela cena? Ou seu pai lhe diz todos os dias “eu não amo você”?
– Não… ele não diz.
– Veja, sei que doeu, mas o fato é que você está construindo sua vida em cima disso. E esse não é um bom alicerce. Que tal tentar se dar outro? Um no qual sua felicidade possa florir?
Muitas pessoas sofrem com a rejeição. Porém o sofrimento causado pela rejeição só deveria ser sentido uma vez, ao ser rejeitado. Porque as pessoas mantém este sentimento por muitos anos e até definem suas vidas com base nele?
O rejeitado tem como dinâmica mental comparar o passado que foi de fato com aquele passado desejado. De um lado, visualiza aquilo que poderia ter acontecido e contrasta com o que ocorreu se atendo às partes negativas. Esta comparação gera a sensação de injustiça e impotência típicas do sentimento de rejeição. Além disso, o rejeitado também cria, muitas vezes sem perceber, um “eu” para cada versão do passado que ele cria em sua mente.
O sentimento de rejeição só é possível por causa deste contraste entre o que deveria ter sido e o que foi. Quando focamos na questão do “eu”, ou da identidade, a questão se torna mais complexa. O rejeitado cria para si um modelo de quem ele foi de fato (o eu rejeitado) e de quem ele poderia ter sido caso não fosse rejeitado. Em geral as pessoas se magoam ao ver quem eles são em detrimento de quem poderiam ter sido caso tudo fosse como eles esperavam que fosse.
Esta dinâmica, então faz com que o rejeitado lute contra o passado e também contra si. Não raro pessoas que tem problemas com rejeição também se rejeitam. O mecanismo é este citado acima: comparação entre quem são e quem deveriam ter sido. O problema repousa no fato cruel de que quem eles são ou poderiam ter sido é algo que está nas mãos de um terceiro: aquele que o rejeitou no passado. Desta forma a injustiça, impotência e desprezo se instalam.
A mudança está em aceitar aquilo que passou do jeito que ocorreu. Aceitar a dor pode ser mais difícil do que lutar contra ela e boa parte das pessoas que são rejeitadas não querem aceitar isso. A aceitação faz com que a pessoa tenha que se fazer uma pergunta: o que farei com o que fizeram de mim? Esse questionamento faz com que ela retome a responsabilidade por sua existência e destino, em geral, algo que os rejeitados jogam para cima dos rejeitadores.
Uma das perguntas que faço é: você pode ser rejeitado? Pode parecer estranha, porém leva à uma reflexão profunda. Boa parte das pessoas reclamam da rejeição e sabemos que ela pode ter efeitos nocivos. Por outro lado trata-se de um fenômeno super comum pelo qual todos os seres humanos passam ao longo de suas vidas. Sem a rejeição não existiriam grupos, afinal de contas rejeitar é escolher também. Logo, perceber que não há nada de pessoal em uma rejeição é fundamental para aceitar o passado (e a si mesmo).
Se a pessoa entende a rejeição como algo normal e entende que seu passado foi real ela poderá abrir-se para o futuro. É algo como dizer-se: “ok, não consegui exatamente o que quis, mas o que vou fazer comigo daqui em diante?”. Não podemos mudar o passado, isso é um fato. Logo não adiante brigarmos com ele e nem com quem nos tornamos a partir dele. Tudo o que nos resta, no presente, é buscar como iremos ao futuro de uma maneira melhor.
Abraço