– Ai Akim, não é isso… é que eu não vou fazer algo ruim sabe?
– Sei, esse é o problema.
– Porque? Tá louco?!
– Esse é o problema: sua arrogância. Você acha que apenas coisas excelentes saem de você?
– Bem, não, mas…
– Então?
– Então que eu quero que seja um arraso, ou isso ou nada.
– Então nada.
– Nem sempre.
– Sempre. Até agora pelo menos, tudo o que surge é a mesma história: nada.
(silêncio)
– E seu medo de errar, como vai?
O que acontece quando aceitamos nossos limites? “Entramos no jogo”. Limites são as regras dentro das quais algo ocorre. Logo, quando aceitamos os limites aceitamos o jogo, resta, então jogar. Porém, é justamente este compromisso que faz muitas pessoas não aceitarem seus limites. As desculpas são muitas, mas a realidade uma só: o medo de jogar.
Há uma diferença entre buscar a qualidade e ter uma visão onipotente de si. Buscar a qualidade é nobre, nutrir uma auto imagem de “pessoa que nunca erra” é inumano. Não ajuda, pelo contrário, atrapalha. ousar a qualidade e a excelência é diferente de acreditar que apenas isso existe. Buscamos a excelência, justamente por saber que existem níveis de qualidade. Eles não são errados por si sós, mas sim melhores ou piores quando comparados entre si.
Porém, quando a pessoa tem uma visão de “pessoa que nunca erra” ou “onipotente”, ela está, na verdade, criando um mecanismo de defesa contra a frustração. Assim a fórmula não é “buscar acertar”, mas sim “não ser permitido errar”. Isso acaba com a auto estima, porque a única maneira de manter tal visão é se tornando menor. Ao restringir meu mundo, posso ter mais controle sobre ele. Com isso se torna possível “nunca errar”.
O preço é óbvio: um jogo “pequeno”, com resultados “pequenos”. Quando digo isso, não há desqualificação em sentido moral, mas sim conscientização de que a pessoa se mantém menor por ter medo de crescer. Quem não erra é porque não cresce. Afirmo isso porque ao crescer, nos colocamos em situações que não conhecemos, fatalmente, em alguma delas vamos tropeçar, errar ou não compreender. Assim sendo, quem erra, cresce. Quem reconhece seus limites humanos, também.
Ao buscar ser sem limites (onipotente) as pessoas limitam-se dentro de pequenas rotinas maçantes. Acreditam que estão evoluindo, mas estão apenas se especializando naquilo que já sabem. A mudança cessa, o crescimento também e, com isso, a possibilidade de ser potente. É interessa porque o paradoxo se mostra rapidamente: quem quer ser onipotente se torna impotente, pois não se coloca em situação de aprendizagem com medo de errar.
O medo, na verdade, é de se perceber incompleto. Perceber-se falho e colocar em dúvida sua própria auto estima em detrimento disso. Ao permitir-se errar a pessoa também se permite ser quem é, do jeito que é. A auto estima, inclusive, ocorre aí: com quem somos. A atitude mais ousada de um humano é aceitar ser quem é, aceitar o seu destino. É disso que tratam os mitos e a auto estima. Amar aquilo que somos, tal como somos. Paradoxalmente, isso é o que nos faz crescer e nos tornarmos melhores, afinal de contas, só podemos ser “melhores” dentro daquilo que já somos.
Abraço