– Mas Akim… como que eu posso fazer se eles não querem nem saber?
– A regra é para eles ou para você?
– Para mim.
– Então, o que te faz focar neles?
– Eles não gostam daquilo que eu gosto.
– Claro que não, “eles” são “eles”, seja lá quem for que você está se referindo.
– Eu sei, eu sei, mas o que eu faço então?
– O que você quer fazer?
Limites são condições necessárias para muitas coisas. Respeito, auto estima, amor próprio, por exemplo, não são possíveis sem limites. Porém, este tema tende a ser complicado pelo fato de que para sustentar limites que são importantes para mim, muitas vezes é necessário mexer na maneira de me relacionar e, em alguns casos, na natureza da relação em si.
Este é o problema clássico das relações tóxicas, por exemplo. Percebe-se que a maneira pela qual a relação está indo causa danos e se deseja impedir os danos. O dilema reside no fato de que ambos os lados possuem regras que validam os comportamentos inadequados e invalidam comportamentos que seriam mais “saudáveis”. Assim sendo, se mantém o ciclo de comportamentos assim como os resultados. Limites são as regras pelas quais jogo o jogo da minha vida. Porém é importante compreender que nem sempre somos os donos dessas regras.
Muitas delas vem de nossa família. Nos são ensinadas desde muito cedo e de formas variadas. As melhores regras são aquelas que não precisam ser ditas, são, simplesmente vividas. Quando estamos com uma família diferente da nossa é fácil sentir isso. Percebemos os movimentos espontâneos e conseguimos deduzir rapidamente quais são as regras pelas quais as pessoas se guiam. A nossa história é um pouco mais complicada porque nós vivemos dentro daquelas regras. Assim sendo, elas são mais óbvias para nós e tornam-se invisíveis.
Uma maneira de perceber as regras pelas quais vivemos é percebendo a culpa. Em geral temos este sentimento quando rompemos as regras, mesmo quando racionalmente não concordamos com elas. Outro sentimento é o alívio que surge quando fazemos algo que vai de acordo com as regras, mesmo que elas sejam prejudiciais à nós. Assim sendo, nem sempre as regras que seguimos são “boas” para nós, embora o sentimento em segui-las seja “bom”. Esta é uma maneira de perceber as regras com as quais vivemos nossa vida e que foram herdadas de nossa família.
De posse disso é necessário coragem para ousar contra elas. Não há outra forma. Afinal de contas, mesmo que a regra não seja adequada, ela se mantém e quase sempre somos “julgados” através delas. O mesmo vale para nós. Conseguir desapegar-se da necessidade de julgamento, no entanto, é que requer a coragem. Ela afirma que há algo além das fronteiras daquilo que conhecemos e que pode ser “bom” para todos mesmo que não seja a regra usada até o momento.
Esta é a jornada do herói, inclusive. Ele parte em uma aventura para “ir além”. Ele vai para outras terras em busca de algo que possa “curar” o seu lar. Por este motivo é que o herói sempre realiza o retorno ao lar. Ele parte por um motivo, a busca não é importante “por si só”, mas sim, porque trará algo. Ao trazer este algo é que o herói cura a si e a terra de onde veio. Ele traz novos limites, novas regras que abarcam aquilo que era excluído antes. Ao incorporar e criar novas dinâmicas, novos limites se criam, e algo se torna possível. Este “algo” cura. Portanto, aqueles que desejam o “auto crescimento”, precisam aprender a se abandonar, pois só assim, poderão emergir dentro de novos limites.
Abraço