– Ai Akim… mas não posso fazer isso.
– O que te impede?
– Eu não posso ir e deixar meu filho em casa assim… só com o pai. Onde está a mãe?
– Indo para a viagem oras.
– E isso lá é coisa de mãe fazer?
– Bem, você tem razão, eu não sei o tipo de mãe que você quer ser. Você sabe?
– Como assim?
– Ora, é possível para uma mãe ir viajar e deixar o filho com o pai. Isso é viável e não há nada de errado nisso por si só. Porém, você decide por isso?
– Não sei, nunca pensei nisso.
Muitas mulheres entendem a maternidade de uma forma fixa. O papel de mãe se torna rígido e disfuncional à medida em que valores e ideias que não se adequam à vida da pessoa se somam para cobrar a mulher do que deve fazer enquanto mãe. A “mãe grande” é aquela que decide como será mãe. Ela não é uma vítima de seu papel, mas uma criadora daquilo que será.
Ser mãe, assim como tudo na vida, envolve escolhas. Escolhas não são apenas uma questão de “quero, não quero”, isso é algo barato e banal. Escolher significa olhar para si e compreender o que é essencial. A escolha deve buscar a essência, aquilo que realmente faz sentido para nós. A maternidade ainda mais, pois envolve outro ser e a criação de um novo papel. Quando uso a palavra “criação” algumas pessoas olham torto para mim, porém, o papel de mãe é criado, nunca fixo. O que é ser mãe hoje é diferente daquilo que foi ser mãe séculos atrás.
Indo mais além, cada pessoa é diferente e aquilo que serve para uma mulher enquanto mãe pode não servir à outra. Algumas mulheres desejam uma proximidade grande com os filhos, desejam interromper o trabalho ou diminuí-lo para “curtir as crias”. Outras não. Para elas, ser mãe é mostrar justamente o empenho em dar conta de várias áreas da vida ao mesmo tempo, tendo amor por tudo o que se faz. Qual é a certa? Aquela que escolheu algo que realmente faz sentido dentro de sua alma.
É óbvio que existem alguns cuidados que ultrapassam o desejo da mãe como a amamentação. Porém, mesmo na maneira de executar algumas coisas existe a escolha. Ser mãe não é tarefa simples, ser humano não é fácil. A criação do papel de mãe, também envolve o filho, afinal de contas, nem sempre a criança se adapta bem ao papel que a mãe quis para si. Saber avaliar o que ajuda e o que não ajuda, independente de nosso desejo, mas com foco na realidade é uma atitude que ajuda a criação consciente e responsável deste papel.
Também é claro que nem sempre é possível escolher tudo “a contento”. A realidade se mostra e nos dá limites também. Novamente, a criação vem no sentido de nos ajudar a ver como se adaptar aos limites. E como encarar algumas perdas que são inevitáveis. O maior problema em uma mudança de nossa atitude é quando fingimos que não estamos fazendo mudanças. Aceitar os limites que a realidade traz e fazer ajustes não significa “perder”, mas sim ser consciente e realista. A pessoa que se fixa de maneira cega em seus ideais se nega tanto quanto aquela que sempre abre mão.
Por fim, a mãe que você será é única. Não há como comparar você com sua própria mãe. É óbvio que comparações irão aparecer, neste momento é importante olhar para isso e se perguntar se isso é justo. No mínimo é outra época, são duas mulheres diferentes e com desejos diferentes. De outro lado, as pessoas podem concordar também, é possível desejar – e, para alguns realizar – uma vida tal como sua mãe teve. Não há problemas com isso também. A questão, volto a lembrar, reside no desejo, na escolha de que tipo de mãe você quer ser.
Abraço