• 18 de dezembro de 2017

    Antes assim, depois assado… o dilema da mudança e a continuidade da experiência

    – Então Akim, eu estou bem feliz, mas preocupado também.

    – Com o que?

    – Bem, eu tenho feito algumas mudanças, antes eu não dizia não, agora eu digo.

    – Ok.

    – Mas daí tem vezes que eu não consigo dizer não sabe?

    – Claro, qual o problema?

    – Eu mudei isso, entende?

    – Ah… sim. Então, nunca mais deveria não falar não, é isso?

    – É!

    – Difícil hein?

     

    Muitas pessoas, ao começarem a fazer mudanças entendem que suas atitudes como um divisor de águas. Porém ficam apenas na divisão. O rio não se divide, continua fluindo como um todo. Um comportamento adquirido ainda faz parte de uma pessoa completa, assim sendo, não faz sentido dividir a experiência em antes e depois, mas sim encará-la como um continuum.

    Outra maneira de compreender isso é quando velhos hábitos se fazem novamente necessários ou interessantes. Acontece muito durante o envelhecer das pessoas de voltarem a ter determinadas ações que deixaram de ter ao longo dos anos. Porque? Porque o comportamento não pode ser visto de maneira isolada, ele está sempre em relação à um contexto e aos desejos de uma pessoa. Este é o problema que surge quando a pessoa divide a experiência em “antes e depois”, ela desconsidera o contexto e fica fixada no novo comportamento.

    É uma experiência única, não faça divisões. Um novo comportamento deve ser visto como mais uma ferramenta em uma caixa de ferramentas. É um erro conceitual identificar-se com o comportamento. A experiência humana engloba o comportamento e vai além dele. O mesmo vale para emoções e pensamentos. Ao adquirimos um novo comportamento, percebermos algo de maneira nova ou aprender a sentir-se diferente em uma mesma situação, não estamos deixando de lado o “passado”, apenas apreendendo mais uma fatia da realidade possível aquilo que modificamos.

    Em outras palavras, aprender a se alimentar de maneira ponderada, aprender o “pensamento magro”. Isso não exclui a possibilidade de voltar a ser comilão, é uma nova faceta da sua relação com a comida. Não se trata de esquecer uma fase de sua vida e se apegar à outra, mas sim de compreender que agora você detém duas maneiras de se relacionar com a comida. É mais difícil fazer isso, porém negar o que fomos nunca ajuda plenamente, pois mantém um medo secreto: “e se eu voltar e me comportar assim”?

    Perceba na sua experiência prática. Perceba algo que você já mudou em sua vida e olhe para isso criando uma separação entre o “antes e o depois”. Depois disso, apenas pela prática, desfaça esta separação. Assuma o mesmo cenário da seguinte maneira: eu tenho duas maneiras de lidar com esta situação. Conheço estes dois caminhos, ambos são meus. Em geral, as pessoas se sentem mais fortes com isso, mesmo quando a experiência “do passado” é negativa. A força vem por assumir a sua própria história. Isso é algo muito forte.

    A negação de nosso passado nos deixa fracos. Há uma força que precisa ser investida para afirmar constantemente que “aquilo passou”. Não passou, faz parte, ainda existe aí dentro, é a sua história. É duro afirmar isso, porém libertador, revigorante. Quando o “antes e o depois” podem co-existir, é possível olhar para ambos e crescer. Com isso é possível criar mais comportamentos ainda, visto que a experiência da situação ainda continua. Não se separe, se complemente. Afinal, se você sofreu no passado, quem melhor do que você mesmo para se acalentar e nunca esquecer disso?

    Abraço

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