• 2 de março de 2020

    O direito de estar errado

    – Mas Akim, como eu ia dizer isso para ele?

    – Com a boca, talvez pedindo desculpas.

    – Mas… e como eu ia me sentir depois?

    – Não sei, como se sentiria em admitir que estava errado?

    – Mal, muito mal.

    – Que pena.

    – Pena?

    – Sim, porque se você não pode admitir isso, como faz quando percebe que está agindo errado com você mesmo?

    – Bem…

    – “Bem…” isso já responde a pergunta.

    Muito se fala sobre auto estima. Porém, entende-se, erroneamente, que ela tem a ver com sempre defender aquilo que você pensa. Embora parte disso seja verdade, o problema está na palavra “sempre”. A verdadeira auto estima não tem problema nenhum em errar.

    Vivemos em uma era na qual a opinião possui um valor exagerado. “Defender” a sua opinião nunca teve um valor tão alto quanto nos dias de hoje, porém a propaganda falha no elemento mais importante sobre a opinião: sua construção. A opinião, em si, não é importante, mas sim sua origem e o efeito que causa na vida da pessoa e do mundo. Em outras palavras: não importa se a opinião “é sua”, o que importa é se ela funciona de fato e torna sua vida melhor. De que adianta manter uma opinião que não funciona e não te ajuda?

    Se o processo de construção e uso de opiniões fosse o fator mais importante a ser considerado, as pessoas poderiam se dar o direito de errar. O erro é importante porque é ele que nos aponta os limites daquilo que pensamos e sentimos. Em geral, o erro nada mais é do que uma falta de percepção, uma percepção distorcida ou falta de competência em algo. Erramos, então quando não entendemos todo o problema, quando entendemos o problema de maneira equivocada ou quando não dominamos a técnica para resolver o problema.

    Assim sendo, é muito fácil errar e equivocar-se. Porém, para assumir isso é necessário ter humildade. E nós sabemos, no fundo, que temos várias opiniões sobre o mundo e nós mesmos que são erradas ou apenas birra. Mantemos várias percepções apenas por manter, afinal de contas, elas não nos acrescentam nada ou até prejudicam. E não falo aqui de um ponto de vista vitimista, mas sim, realista. A humildade e a coragem de olhar para o que pensamos e mudar, pelo fato de sabermos que a ideia não nos ajuda é fundamental para o crescimento.

    Então a pessoa passa a refletir sobre como criou o seu raciocínio. Sobre o que a fez pensar daquela maneira e os resultados que colheu com isso. Não se trata do extremamente chulo “é minha” opinião, como se o fato de ser sua desse à opinião algum valor especial. Quem se abre para questionar aquilo que pensa e mudar de acordo com a necessidade ou desejo é o verdadeiro dono de sua própria opinião. Em outras palavras: a opinião é minha, o processo de decidir por ela ou descartá-la também. O dono da opinião manda nela, o dependente de atenção é mandado por sua opinião.

    Aceitar o erro é aceitar o crescimento. Ao nos fecharmos ao erro, paramos de aprender e, portanto, de crescer. Olhar para o que não conseguimos entender e fazer nos abre para aprender a fazer e entender. Com isso é possível crescer. Falar, de maneira orgulhosa “mas é a minha opinião”, não soma ao crescimento pessoal. Defender uma opinião apenas por ser sua é sinal de fraqueza intelectual, defender uma opinião porque ela se mostra válida na realidade é sinal de maturidade. A mesma maturidade encontra-se ao perceber e admitir que sua opinião encontrou um limite no real e está fadada a ser substituída por algo melhor e isso é crescer.

    Abraço

    Comentários
    Compartilhe: