– E daí Akim, todo mundo ficou olhando.
– Claro né?
– Como assim? Não tenho direito de andar como eu quero?
– Tem. Mas o que isso tem a ver?
– Então o pessoal não devia ficar olhando né?
– Bem, toda ação tem uma reação. Você se vestiu como quis, porém, isso não significa que o mundo deixou de existir por sua causa né?
– Não, mas o que isso tem a ver?
– Bem, o fato é: as pessoas no seu mundo se vestem da maneira que você se vestiu?
– Não.
– Você classificaria a sua roupa, olhando para as outras pessoas do seu mundo, como comum ou diferente?
– Diferente.
– Muito diferente, não é? Veja, eu achei linda a sua roupa, mas é muito diferente, chocante, eu diria. Você se preparou para isso?
– Eu tenho direito de andar como quero.
– E os outros de reagirem a isso. O seu direito não anula o dos outros. Qual o real problema aqui?
– Não sei.
– Sabe sim, é o mesmo que ocorre na sua família.
– Eu quero que todos me aceitem?
– Sim.
Aceitar tudo tornou-se o grande lema na sociedade atual. Na verdade, a aceitação tal como é ditada hoje em dia, não se aproxima em nada da real aceitação e cria muita confusão sobre limites. Existe uma diferença sutil entre ser excluído e não ser preferido. Porém a atual resistência à frustração nos faz confundir estes elementos e terminamos solicitando mais do que nos é devido.
A vida em sociedade exige percepção aos outros. Os limites existem dentro das várias áreas da vida humana. Quando alguém vem com algo diferente destes limites está testando a sociedade e a reação das pessoas. Testando os limites. Quando se fala da pessoa x sociedade, isso parece difícil de digerir. Porém, em um exemplo muito mais simples a realidade dos limites e a dificuldade que temos em lidar com eles aparece. Fazer dieta. Fazer dieta é uma maneira de ir contra o que você estabeleceu para si como costume de alimentação. Quem já tentou uma re-educação alimentar sabe como isso é difícil.
Lutamos contra nós mesmos, nossos desejos, nossos hábitos entram em conflito e demora muito tempo até que a nova rotina seja estabelecida. Não é fácil, ninguém muda do dia para a noite. Exige esforço, compreensão e resistência a frustração. Porém, quando falamos em termos sociais queremos trazer algo novo e exigimos que todos aprovem e não exibam nenhuma crítica. Isso é irrealista. Se alguém deseja mudanças sem enfrentar resistência está pedindo para si algo irreal. A única exceção que conheço é quando a mudança já está devidamente aceita por todos e alguém traz o comportamento que faltava.
A resistência à mudança não deve ser encarada como algo contra a mudança. Este é o papel, na mitologia do “guardião do limiar”. Ele é aquele que impede o herói de começar a sua aventura. Aquele que guarda a entrada do templo ou caverna na qual o herói deve se aventurar. Esta figura tem um papel dúbio. Ele não permite que o herói entre no mundo desconhecido e, ao mesmo tempo, não permite que ele saia do mundo comum. Isso é importante para a aventura e amadurecimento do herói.
O papel do guardião é testar a maturidade do herói para a aventura. Ao ir para ela, ele enfrentará desafios, não vale a pena deixar alguém entrar no universo desconhecido se essa pessoa não conseguir vencer o desafio de entrar lá. Sem isso, ela levará as coisas para o lado pessoal, não vai entender que os desafios são impessoais, se acometem à todos que ousam. Se o guardião permite que um herói despreparado entre no universo desconhecido, provavelmente o herói perecerá.
Se a resistência das pessoas for entendida desta maneira, não haverá problemas em relação à aceitação. Mesmo que a pessoa seja excluída de fato, ela se fortalece. Não indo contra o movimento e exigindo recompensas como ocorre hoje em dia. Mas ao conseguir sustentar sua forma única mesmo sendo excluída. A resistência é um guardião do limiar. Não devemos reclamar dela, mas sim olhar além dela. Nos preparar para a aventura e vencer este desafio não com choramingos e demandas infantis que querem que tudo seja aceito, mas sim com a perspectiva heroica de ir além do mundo e não contra ele.