– Está difícil para mim.
– Sim, é difícil mesmo.
– Não quero isso.
– Eu sei. O que você faz com esse desejo de não viver isso?
– Eu não sei… quando me sinto triste eu me digo: isso está errado!
– Exato. Então você associa “tristeza” com “errado”, certo?
– Sim.
– E ao fazer isso, você olha para si mesma e diz “errada”.
– É… é assim mesmo.
– E se você pudesse abrir mão desse pensamento “errado”?
– Como assim?
– “Errado” é algo que você se diz. Um julgamento. Você está escolhendo isso. Ao escolher, torna isso “real”, mas isso não a experiência, é apenas sua classificação.
– Hum… se eu não usasse “errado” ia usar o que?
– Não sei, que tal escolher algo e experimentar o que pode acontecer?
É difícil entender que nosso pensamento é apenas nosso pensamento. Tendemos a confundir “mapa com território”, ou seja, dar ao pensamento o valor de realidade. Embora isso, por si só não seja prejudicial, dependendo da situação pode nos travar muito nossa capacidade de viver.
É algo simples e ao mesmo tempo muito difícil. Usamos muito nossa mente e a tendência é de nos identificarmos com ela. Porém, em uma experiência muito simples, podemos notar a grande diferença que existe entre a experiência e o pensamento. Imagine que você está comendo algo. Uma comida que você realmente gosta. Agora vá comer isso de verdade. Compare as duas experiências. A memória é um fenômeno, a experiência sensorial é outro. A imaginação com a qual criamos o futuro, por exemplo, é ainda uma terceira.
Ocorre que, quando achamos que aquilo que ocorre em nossas mentes é o mesmo que aquilo que estamos experimentando com nossos sentidos, confundimos as experiências. Tomamos por real aquilo que é da mente. E a mente pode dar voos altos, mas ela não se concretiza. Ela é muito útil, mas é apenas a mente. Além do que ela pode nos oferecer, ela não é nada demais. Porém a confusão que criamos nos reduz aquilo que vivemos dentro da mente.
Outra experiência é observar um belo pôr do sol. Há uma diferença entre estar diante do pôr do sol e imaginar isso. Tudo aquilo que falamos, pertence à mente. O sensorial ocorre antes do verbo. Ele não precisa dele, na verdade. Porém, nos é muito complexo ficar entregues à esta experiência puramente sensorial. Este tipo de experiência pode ser muito rica e útil quando lhe damos um lugar de importância. Se você puder usar o exercício de diferenciar o que você pensa daquilo que sente, poderá começar a ver o potencial que “apenas” sentir tem a lhe oferecer.
Muitas vezes, no consultório, percebo que as pessoas me contam uma história sobre seus problemas. Ela é muito interessante e faz todo o sentido. Porém, é apenas isso: uma história. Ela não ajuda a pessoa. Porque não? Porque o problema está no nível da experiência. Ela usa da história para explicar o “problema”, mas o que ela precisa é de outra forma de experimentar o mundo. Assim enquanto a pessoa me fala sobre “raiva” olho no rosto expressões de tristeza. Não há uma conexão entre o que a pessoa diz e o que ela está mostrando. Isso confunde muito.
Quando se torna possível, aos poucos, sair da história e penetrar na experiência, a pessoa se dá conta daquilo que está ocorrendo. Isso, muitas vezes, traz a tarefa de abrir mão da sua “versão” da história e olhar para si mesmo “de verdade”. A diferença é a qualidade da informação: a experiência traz o que realmente ocorre, a história traz aquilo que nos é mais confortável. Ao abandonar este conforto, ganhamos a realidade e, com ela, possibilidades mais reais de agir no mundo.