– Mas é que eu quero saber o que há de errado comigo!
– O que você acha que é errado?
– Não sei, estou aqui para descobrir.
– Ah, entendi. Bem, o que te faz crer que tem algo errado com você?
– Eu nunca consigo fazer as coisas que quero, tipo, sabe… tudo dá errado.
– Entendo. Mas de que maneira isso faz com que você seja errado?
– Ah… se nada dá certo comigo, alguma coisa tem que estar errada comigo, não?
– Hum… talvez. E se não tivesse?
– Não sei.
– O que você teria que assumir, se não tivesse nada de errado com você?
– Não sei… sei lá.. que é normal não acontecer tudo o que eu quero?
– Pense sobre isso.
Quando algo não vai bem, esperamos. Quando isso se mantém durante um tempo, podemos cair na armadilha de olhar para nós mesmos com rancor. “Há algo errado comigo”, ou seja, vejo algo em mim que não quero ver. O julgamento, neste caso, recai sobre a pessoa que vive, sobre o “eu”. Julgar-se a partir de resultados pode ser uma das armadilhas mais perversas.
Ocorre que, geralmente as pessoas começam por generalizar: nada nunca dá certo comigo. Bem, se fosse assim de verdade, a pessoa estaria morta, nem sequer teria nascido. Este é o primeiro ponto: do que estamos falando, especificamente? Qual o tema dentro do qual alguma coisa não está se concretizando? É um comportamento específico? Uma nova maneira de ver o mundo, uma área da vida na qual a pessoa tem que fazer alguma mudança? Este primeiro ponto é fundamental.
O segundo ponto é ver o que, de fato, se espera. “Algo está errado”, o que é “errado”? Qual a expectativa em cima da qual a pessoa diz que está certo ou errado alguma coisa? Certo e errado são julgamentos. Assim sendo, é importante compreender a repeito do que a pessoas está falando de verdade. Muitas vezes isso significa perceber que algo esta errado porque, na verdade, o que a pessoa está fazendo e o que ela quer são coisas diferentes. Ou então, que aquilo que ela dizia querer, no fundo, não é algo bom para ela.
Estes dois pontos são fundamentais porque em quase todos os casos de “algo está errado comigo”, estamos falando sobre expectativas que não estão sendo cumpridas de acordo com o que a pessoa quer ou situações nas quais esta expectativa nem sequer é consciente. Isso faz com que aquilo que é vivido pela pessoa seja julgado sob este ponto de vista. Com isso a pessoa não vê os sucessos que pode ter. Além disso, também fica fora da consciência a perspectiva de saber se ela realmente quer o que diz querer.
Como o julgamento de “sou errado”, já está pronto, ela apenas adiciona dentro disso as “evidências”. Em outras palavras, a pessoa assume que é errada e depois arranja as provas. Isso é algo comum dentro das famílias. A pessoa assume um papel e depois tenta prová-lo. Por esta razão é que, muitas vezes, a pessoa nem sequer consegue perceber a armadilha na qual se colocou. Compreender que a sensação de que há algo de errado com você é apenas uma sensação ajuda e muito a desvendar o mistério.
Ocorre que se a pessoa foca na sensação, consegue ligá-la a eventos factuais. A partir disso, pode compreender relações de causa e consequência entre esses eventos. Ela também poderá ver que sente algo em relação à isso e que este sentimento tem a ver com sua história. Assim ela pode começar a libertar-se, por compreender o seu papel dentro de sua própria vida. Não é raro que as pessoas que acham que está tudo errado com elas, ao final percebam que, de verdade estava tudo certo, mas elas estavam insistindo em ir para o lugar “errado”.