• 8 de julho de 2020

    Aquilo que “cura”

    – Eu já não sei mais o que fazer.

    – Ótimo. Então pare um momento e pense em tudo o que já fez.

    – Ok.

    – Agora deixe isso tudo de lado. Nada ajudou… agradeça a todas essas tentativas e deixe-as de lado.

    – Ok… é estranho fazer isso.

    – Sim. Agora pense no que você acha sobre o seu problema.

    – Tá bem.

    – Deixe isso de lado também… agradeça e deixe de lado… isso também não ajudou muito.

    – É meio estranho fazer.

    – É bem estranho… permita-se sentir esta estranheza… sinta algo além disso. É algo mais do que “estranho”.

    – Sim… me dá quase um medo… é como se eu… não tivesse resposta nenhuma!

    – É exatamente isso… as respostas que você tinha, não ajudaram… então você as deixou… agora está sem resposta. Então simplesmente se diga isso agora: não tenho respostas.

    – Mas é difícil.

    – Sim, e, também, verdadeiro… tente ficar com isso um pouco…

     

    Queremos respostas. Logo, de preferência. Porém, não sabemos exatamente qual a pergunta, ou onde queremos chegar com a resposta. Assim, torna-se muito difícil encontrar uma reposta. A tragédia ocorre porque aquilo que mais queremos nos cega diante do que mais precisamos. E quando queremos resolver um problema, o primeiro passo é olhar muito de perto o problema.

    Há uma confusão em nossa mente. Em geral, quando temos um problema, criamos uma imagem de “como as coisas deveriam estar”. Então passamos a olhar para esta imagem e brigar contra a realidade por não estar concretizando ela. Queremos esta imagem a todo custo e nos afastamos do real. Acreditamos que a imagem não estar ocorrendo é o problema. Assim, deixamos de olhar para a nossa experiência. Criamos várias respostas que não ajudam, formulamos pensamentos que nada explicam de verdade. Nos perdemos.

    Se abrimos mão daquilo que não funciona (por motivos óbvios), nos abrimos à pergunta. Ficar sem resposta é uma tarefa árdua para a mente humana, pois ela adora resolver problemas (e criá-los). Assim aceitar ficar sem reposta para poder olhar para a pergunta é algo que cria ansiedade. Porém, é exatamente nisso que a pessoa poderá entender o que é, realmente o seu “problema”. Quase sempre, em terapia, as pessoas passam por este processo: abandonar uma explicação muito elaborada que tinham sobre “porque sua vida está ruim” e, depois disso, olharem para o que realmente estão fazendo o que os motiva à isso.

    O título deste post “aquilo que cura”, reside justamente neste momento em que a pessoa abre mão de suas explicações. É um fato: se a explicação fosse boa o suficiente, a pessoa já teria resolvido seu problema. Como ela não resolve, precisa abrir mão dela e isso exige coragem. Esta é recompensada ao abrir os olhos para o problema. Deixamos nosso ego de lado, assim como nossas teorias e nos abrimos à algo maior. Algo que contém os problemas e as repostas: o vazio.

    Estar vazio é estar sem algo, porém aberto à algo. Sem respostas, aberto à elas. Esta atitude é curativa. “Cura” no sentido que limpa a mente de ideias pre concebidas, mas disfuncionais. No sentido de nos conectar à experiência e não às ideias que temos da experiência. E no sentido de nos colocar em uma atitude pragmática, ou seja, ver o que realmente tem para ser visto e sustentar nossas ideias com base na experiência e não com base naquilo que achamos que deveria acontecer.

    Esta atitude de olhar o real é curativa. Isso é o que nos ajuda a identificar as feridas da alma onde elas realmente estão. Com isso também podemos encontrar os bálsamos, pois deixamos de olhar para aquilo que “deveria” ajudar e passamos a identificar o que “realmente” ajuda. Embora isso possa parecer um tanto estranho, creio que boa parte das pessoas já teve a experiência de encontrar uma resposta onde menos esperava. Este é, justamente, o dilema da mente humana. Ela cria histórias, mas nem sempre a história criada nos ajuda. Assim para onde você olha: para a história que criou ou para a realidade?

    Abraço

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