– O que você está querendo me dizer?
– Eu acho que você sabe o que eu quero dizer.
– O que eu sinto é que você está me dizendo que eu… tipo, só não resolvo porque não quero.
– Algo assim. Não exatamente isso, mas algo próximo. O que você sente com isso?
– Incômodo.
– Sim, imagino.
– Estranho isso, eu deveria me sentir feliz, não?
– Não sei. Talvez você não queira ainda sair dessa situação. Já pensou nisso?
– Na verdade… sim…
Obviamente, são muitos os elementos para responder esta pergunta. Porém, em alguns casos queremos ficar com o problema. Mantê-lo nos deixa em uma zona de conforto, enquanto assumir que temos a força para sair dele, cria conflitos. A evitação deste conflito interno, muitas vezes é a única coisa que nos atrapalha de verdade.
Não é simples olhar as dinâmicas humanas. Pensamos de uma forma lógica e cartesiana: temos um incômodo, pensamos na solução, fazemos. Simples. Porém a lógica que cria comportamentos e pensamentos não segue este tipo de lógica. E é fácil ver isso: comportamentos não se criam para resolver problemas pontuais, eles se desenvolvem ao longo de anos buscando criar relações entre as pessoas. Não é apenas “aprenda a dar limites”, é algo mais amplo e complexo: descubra o que é preciso para estar nessas relações.
Então muitos problemas estruturais que temos são algo além de um ponto. Envolvem toda uma constelação de pessoas e relações. Então temos segurança e pertencimento, mesmo com problemas. Assim, deixar de lado um problema, resolvendo-o, também é colocar de lado a segurança que adquirimos. Todos conhecemos essa sensação: falar e entrar em uma discussão que não sei qual será o fim, ou me calar? O difícil não é sair do problema, difícil, mesmo é entrar nele.
Pois é somente quando aceitamos o preço dos problemas: voltar à instabilidade e à criatividade; que podemos, de fato, “resolver o problema”. Muitas pessoas já detém em suas mãos tudo aquilo de que precisam. Aceitar isso pode ser doloroso porque as coloca num lugar de responsabilidade. Elas “sabem”, logo detém “poder de ação”. E agir é entrar nesse terreno incerto da vida. Dá medo, muito medo. Ao mesmo tempo que nos dá força também. Afinal, para suportar o medo e a dor, precisamos de força.
Se for possível aceitar isso, entramos com a responsabilidade. Nos comprometemos e abrimos os olhos. Não é fácil também. Ver o que há para ser visto pode ser muito difícil, é justamente por isso que fechamos os olhos. Ao abri-los entramos em contato com os objetos de nossos medos. Olhamos para o que tentamos deixar debaixo do tapete, para o que queremos ignorar e aquilo que fere o nosso orgulho. Porém olhar para isso nos dá força, pois isso tudo é real.
E dessa realidade é que nascem os frutos. Com isso é possível olhar realmente para os problemas e encará-los. Assumir a responsabilidade, eis porque é tão difícil sair de um problema. Assumir que algo está inadequado, tomar isso para si e sofrer com isso. Neste sofrimento encontrar a força para ir adiante com isso. E ir. Este segundo movimento é fundamental porque a vida caminha para frente, apesar de tudo. Quem não caminha para frente, nega tudo o que fez até então. Nega a própria vida.
Abraço