• 23 de setembro de 2020

    Não leve para o lado pessoal o comportamento do outro

    – E eu não me sinto respeitada sabe?

    – Sim, compreendo.

    – Porque ele não para de fazer isso?

    – Bem, ele já faz isso durante muito tempo não é?

    – Sim!

    – Não sei se ele vai realmente mudar, porque não sei se é algo que ele faz contra você.

    – Não, não é. É o jeito dele assim.

    – Ah… então se “é o jeito dele”, me conte: porque você está esperando ele mudar?

     

    É algo difícil de se fazer, mas compreender que os outros não se comportam contra você, mas sim em favor deles é algo muito importante. Esta percepção não visa “amar a todos” de forma igual, mas sim, não se colocar no papel de vítima de uma situação e, com isso, conseguir ter um domínio maior de si dentro de suas relações.

    Em geral, nos incomodamos com comportamentos que, de alguma maneira, interferem na nossa dinâmica pessoal. Em outras palavras: o que nos incomoda são os comportamentos que os outros tem, que nos ferem, mas que nos sentimos impotentes para fazer algo. Quando este tipo de situação surge é muito comum entendermos que o outro está fazendo algo “contra nós”, de forma pessoal. Porém, em boa parte dos casos o que realmente vemos é que ambos estão envolvidos em uma dinâmica que os dois nutrem de uma forma ou de outra.

    No caso acima, por exemplo, a pessoa que reclamava do conjugue sentia-se desrespeitada. Porém era um fato de que ela, mesmo solteira, acabava deixando suas necessidades sempre em último plano. Era o trabalho, estudos, amigos, família, tudo antes de ela dizer: “agora eu”. Essa dinâmica se manteve no matrimônio, com ela sempre se colocando em último lugar. Perceber que isso faz parte da maneira dela de se relacionar a ajudou a perceber seu papel na relação.

    Perceber que o comportamento do conjugue não era direcionado à ela, em específico, foi o que a ajudou tomar ação. Então é possível ver o comportamento do outro como algo do outro ao invés de perceber como “algo do outro contra eu’. A mudança é importante porque reorganiza a maneira pela qual as pessoas envolvidas na relação “brigam”. No primeiro caso, as pessoas brigam umas contra as outras, afinal de contas, se acredita que o outro está “contra eu”. No segundo caso, luta-se com o outro em direção à um entendimento, luta-se para criar um meio termo entre ambos em direção à uma relação mais saudável.

    Também é importante porque faz ver que o nosso próprio comportamento não é pessoal. Não temos queixas por causa “dessa pessoa” ou de outra, mas sim, porque algumas coisas simplesmente nos são importantes. Aqui é que percebemos a força da individualidade, a maneira pela qual cada um é cada um e se mantém de forma própria. Respeitar esses limites é fundamental para a saúde emocional e para a boa convivência. Porém esses limites precisam ser reconhecidos antes de poderem ser respeitados.

    Por este motivo é que tratamos dessas coisas como “não pessoais”, afinal de contas não são contra alguém, simplesmente são. Quanto mais esta percepção se torna evidente, mais ação ganhamos, pois não nos identificamos em papeis estáveis nas relações. Quando o fazemos, em geral, repetimos padrões de ações aprendidos ao longo de nossa história o que torna difícil mudar. Porém, quando percebemos a realidade de que não é pessoal, podemos ser mais flexíveis, pois não queremos ferir ninguém ou sermos feridos, apenas buscamos o que nos é melhor dentro do que é possível.

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