• 12 de outubro de 2020

    Ruminando, ruminando, ruminando…

    – Mas eu fiquei muito tempo pensando nisso.

    – E a que conclusão chegou?

    – Pois então, não tenho como chegar numa conclusão.

    – O que te impede?

    – É que depende do ponto de vista vou para um lugar ou para o outro.

    – E lá encontra mais temas para pensar, certo?

    – Sim, algo assim.

    – E sente que isso nunca terá fim não é?

    – É.

     

    A atividade mental costuma nos pregar peças. É muito fácil confundir estados mentais e pensarmos estar fazendo uma atividade quando, na verdade, estamos fazendo outra (ou não estamos fazendo absolutamente nada). A questão da ruminação, por exemplo, se opõe ao raciocínio como diferenciar um do outro?

    Quando se pensa de forma lógica, busca-se um fim. A atividade lógica possui a direção em torno da solução ou conclusão de um determinado problema. Quando estamos raciocinando, a tendência é buscar um fim que nos leva diretamente para a ação. O ato de raciocinar nos prepara para agir. O raciocínio leva em consideração a realidade e os limites colocados por ela. Não é tarefa do raciocínio lógico supor o que não pode ser suposto, pensar naquilo que não pode ocorrer ou ainda desejar que o cenário atual seja diferente do que é.

    O ato de ruminar é diferente. Como é um “ato mental” assim como o raciocinar e envolve o uso de pensamento, ele se mostra semelhante ao raciocínio. Porém a grande diferença é que ele não visa um fim. O ato de raciocinar busca um fim, ou solução ao problema, o ato de ruminar, não. Trata-se, apenas de um exercício que nunca termina e busca sempre uma nova hipótese para ser “pensada”. Ocorre que quando ruminamos, na verdade, estamos nos afastando da ação.

    O ato ruminativo, em primeiro lugar, adora gerar vários cenários possíveis. Aqui já se cria uma ruptura com a realidade no sentido de que a pessoa fica pensando sobre inúmeros elementos que nem sequer existem e muitos que nem sequer poderão existir. Outro fenômeno é que na ruminação, em geral, as pessoas terminam por pular de um assunto para outro e sentirem-se, ao final do exercício, perdidas, sem saber onde começaram e onde poderão terminar.

    Isso tudo serve para manter a pessoa no lugar, parada, sem agir. A emoção por detrás da ruminação é o medo de tomar ação. Agir em momentos de incerteza leva as pessoas a ruminarem. Parece que estão buscando “a melhor solução”, mas na verdade, apenas se afastam do real e da ação. Como falei acima, o raciocínio leva em conta o contexto e aquilo que é possível dentro do contexto. Assim sendo, ele age mesmo diante da insegurança e incerteza, afinal de contas ele não precisa “da” melhor solução, mas sim, da melhor solução possível.

    A relação direta com a realidade e com a ação é o que separa drasticamente ruminação de raciocínio. A percepção clara de um problema e de uma solução, ou seja, de uma ação que pretende algo em relação ao cenário é que difere a atitude de ruminar da de pensar. Pessoas que ruminam muito, em geral, tem certo medo de seus próprios desejos e intenções, motivo pelo qual ruminam, buscando um universo onde tudo será do jeito que querem, e não há motivo para o medo. Buscar o raciocínio, soluções e ação para os problemas é uma atitude que demanda coragem, um dos antídotos contra a ruminação.

    Abraço

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