– Eu não sei direito o que faria a minha vida ter sentido.
– O que você acha que sentiria caso estivesse fazendo algo que tem sentido?
– Não sei… eu acho que seria prazeroso.
– O que mais?
– Não sei.
– Será que “prazer” é algo que realmente nos guia em direção ao sentido da vida? Ou será que apenas isso significa que a vida tem sentido?
– Não sei dizer… para mim é difícil discernir isso.
Para muitas pessoas é difícil imaginar e até mesmo sentir quando fazemos algo que dá sentido a nossa vida ou quando ela mesma está enraizada em um sentido. Nossa cultura foca excessivamente nos prazeres sensoriais, porém, estes não são úteis na percepção de algo que nos faça sentido.
O sentido da vida é um tema que ganhou amplitude em nossa sociedade depois dos trabalhos de Victor Frankl em seu livro “Em busca de sentido”. A ideia de que a vida possui uma direção, no entanto, não é recente, encontramos essa percepção desde a Grécia Antiga e as várias religiões trazem a noção de buscar um sentido para nossa existência. Porém encontrar o sentido é algo sempre nebuloso e, na maior parte das vezes, associado diretamente à experiência pessoal.
Esse “status” do sentido da vida é algo que contribui para a dificuldade em entendermos como procurá-lo. Sentir algo que nos faz sentido (com o perdão do trocadilho) é diferente de sentir o sabor de um vinho, por exemplo, ou a alegria de uma conquista. O motivo é que o vinho é sensorial e se refere à algo concreto, a alegria de uma conquista também, pois vemos algo concreto diante de nós. O sentido da vida é tido como uma percepção de um estado interno, algo diferente desses eventos externos.
Assim sendo, não é algo que desperta as emoções e sensação as quais estamos habituados. O sentimento no caso do sentido da vida, tem a ver com camadas mais profundas e estruturais da existência. Assim, fazem sentido palavras como “paz”, “harmonia”, “inteireza” e “plenitude”. Elas se referem à uma organização do corpo como um todo. É como se o corpo biológico estivesse agindo de forma a usar o seu potencial. Assim sendo esta atividade seria responsável por colocar as virtudes e habilidades “natas” daquele organismo em pleno funcionamento.
Então a característica daquilo que nos faz sentido não é o prazer durante a atividade, ou, pelo menos, do tipo de prazer que chamamos de sensorial, mas, sim, uma sensação durante e pós a atividade que tem a ver com a realização dela própria e a maneira pela qual isso alimenta nosso sistema de valores e recompensa nossas competências mais primitivas. Então temos a sensação de que “estamos indo para onde devemos ir”, um sentimento de certeza e orgulho não por algo feito, mas por ser quem somos emerge.
Como disse antes, estas sensações estão ligadas à percepções profundas desses estados de tecidos biológicos. Trata-se de um relaxar que nos coloca em prontidão. É um sentimento de atenção sem tensão que nos permite ampliar o olhar. Algumas pessoas também relatam a percepção de uma ligação com seu meio ambiente, como se estivesse “no lugar certo”. Estes sentimentos mais profundos são os que tem a ver com a busca pelo sentido da vida, quando falamos em meros prazeres, vemos que, diante disso, eles se tornam pequenos.