– É que eu nunca consegui fazer isso.
– E consegue gostar de você mesmo assim?
– Como eu poderia?
– Como faz para não poder?
– Ah Akim… se você não consegue aquilo que quer, não dá para se amar dá?
– Não sei. Mas me diga: ao se depreciar, de que maneira você se ajuda a conseguir o que quer?
A concepção de amor próprio é complexa e envolve muitas outras crenças sobre a vida, valores e merecimento. Aprender a nos amar é um comportamento que envolve nos percebermos em vários níveis e sabermos como diferenciar a maneira de nos tratarmos neles.
É importante começar definindo algo: o amor por si não é este falso amor que vemos por aí. Não se trata de ficar na frente do espelho se dizendo frases bonitas ou menosprezar os outros como uma forma de “amor próprio”. Frases como “eles que estão perdendo” não tem nada a ver com a concepção de amor próprio, mas sim, com uma tentativa imatura de atingir tal sentimento. Em segundo lugar, o amor próprio não é ilimitado e segue “regras”, ou seja, não dá para fazer de qualquer jeito.
Então, porque se amar é tão difícil? Justamente por causa disso. O amor próprio não é uma fantasia de Poliana em que eu sou lindo e maravilhoso e isso basta. É um exercício difícil e duro de maturidade moral, emocional, comportamental e psicológica. Quem quer se amar de fato, tem que estar disposto a “trabalhar por isso”. Em primeiro lugar entra a noção de aceitar-se. A auto aceitação é necessária em dois aspectos: o primeiro em relação à um sentimento de mereço ser feliz, pois existo. No sentido de que se existimos, temos o dever de buscar pelo nosso bem-estar a existência biológica busca por isso.
O segundo é um sentido mais relacionado à realidade, no qual verifico as competências que detenho para viver e sobreviver no mundo. Isso tudo faz parte de se amar. Porém, obviamente, nem sempre conseguimos estar bem adaptados. Neste momento, como no exemplo acima, é difícil se amar. Pois uma parte daquilo que gera o amor próprio está, de fato, ameaçada. Porém, neste momento é importante ter a maturidade para compreender que repreender-se pode não ser a melhor ferramenta: “me ame quando menos merecer, pois é quando mais precisarei”, diz o ditado sueco.
Então o amor por nós precisa sentir-se merecedor por ser uma entidade biológica viva – sim, apenas por isso – e também merecedor por ter competências que nos fazem viver a vida. Mas também precisa lidar com quando não conseguimos isso de forma plena, neste momento ele é ainda mais importante, pois acolherá nossos problemas e defeitos e nos ajudará com isso. Assim sendo, também precisamos amar aquilo que é defeituoso em nós, imperfeito e esse é outro desafio para o amor próprio.
Por fim, amar quem somos significa abrir mão das ilusões que temos a nossa respeito, pois se amo uma ilusão, não vou estar em contato com quem de fato sou. O ego idealizado pode ser muito belo, mas ao mesmo tempo é falacioso e irreal. Abandonar nossas ilusões não significa estagnar-se, mas sim entregar-se à quem somos e a partir disso buscar algo a mais. Não precisamos ser ideais, pois já somos algo e isso é mais importante do que o ideal.