– Mas ela não me dá a atenção que eu preciso.
– Sim, e é por isso que continua com ela não é?
– Nada a ver.
– Pense em como seria se ela desse o que você diz querer. O que você perderia?
– Eu? Nada, ia ganhar e ficar feliz da vida!
– Muito bem, então me explique o que aconteceu daquela vez que ela te deu a atenção e você ficou bravo com ela.
– Ah, mas aquilo foi diferente.
Existe uma ideia chamada de “ganho secundário” que diz que muitas pessoas se mantém em relações que não são boas para elas por que esta situação lhes traz um outro tipo de ganho. Em geral este “ganho” é de um tipo “neurótico”, que reforça a série de comportamentos inadequados da pessoa.
Para compreender a noção de ganho secundário é necessário compreender que nossos comportamentos não surgem ao acaso e também não são governados pela “lei de mercado”. Tendemos a acreditar que escolhemos o que fazemos partindo da percepção daquilo que seguindo uma lógica de ganho será o melhor para nós, ou seja, que nosso comportamento é completamente voltado à um “lucro” que se origina de uma lógica.
Porém a realidade é muito diferente. Boa parte das motivações de nossos comportamentos e atitudes são desconhecidas por nós. Algumas são formadas durante a infância, outras se referem à regras familiares e culturais das quais não “conseguimos escapar”, algumas também tem a ver com reações à emoções e situações que temos como “resolvidas”, mas que, na verdade, não estão. Assim sendo, muitas vezes aquilo que dizemos que nos une à alguém, não tem nada a ver com o “motivo real” pelo qual nos unimos à uma pessoa.
Este “motivo real”, é o que define muito dos comportamentos que chamamos de ganhos secundários. Assim sendo, por exemplo, uma pessoa diz que quer um parceiro que coopere com ela, mas o conjugue escolhido não tem este perfil. O comportamento “oculto” pode ser, na verdade de alguém que quer cooperar porque aprendeu que deveria evitar a separação dos pais. Assim sendo o comportamento chamado de cooperação, é, na verdade, a busca por unir duas pessoas. Assim sendo, encontra um parceiro que não irá cooperar consigo, para tentar fazê-lo ter esta aproximação.
Os ganhos secundários sempre envolvem algo que está de alguma forma oculto em nós. Uma motivação desconhecida, algo que tememos ver e preferimos deixar de lado para não ter que lidar com isso. Em geral, comportamentos deste tipo são uma forma de defesa contra algo que achamos doloroso demais para ser enfrentado. Por este motivo, mantemos a reclamação, mas não largamos a relação. A reclamação é outro mecanismo de defesa, pois enquanto reclamo daquilo que é visível, a interpretação do que é visto fica encoberta.
Não é fácil perceber essas motivações, por este motivo a psicoterapia é fundamental. A função do terapeuta é ajudar a pessoa a perceber o “jogo oculto”, que por ter esta natureza é de difícil percepção. Quando estamos seguindo esta agenda acreditamos piamente nela, jamais questionamos a sua função ou a maneira pela qual a expressamos. Seguimos porque “sabemos” o que está errado, quanto mais tentamos mudar, menos êxito temos, porque, na verdade, não sabemos do que se trata.