– Eu não sei se quero.
– Não sabe?
– Não é isso… é que eu… quero ir, mas não quero também.
– Quer e não quer?
– É… é isso…
– E o que você quer e o que você não quer nessa situação?
– Hum… não pensei desse jeito ainda…
É comum ouvir “quero, mas não quero” no consultório. Em geral, esta fórmula está cifrada, ou seja, ela esconde algo ao ser dita. O mais comum é compreender que não existe um “mas”, mas sim um “e” na frase, logo “quero e não quero” é mais verdadeiro e isso nos abre portas.
Pensamos ser errado afirmar “quero e não quero” ao mesmo tempo. Nos parece ilógico que algo possa ser desejado e não desejado ao mesmo tempo. Essa noção acompanha outra noção ligada ao campo afetivo, visto que também é mais aceita a noção de que só podemos sentir uma emoção por vez (e isso é falso, podemos sentir várias). Assim sendo o fato é que o mesmo estímulo pode nos despertar mais de uma emoção ao mesmo tempo, na medida em que significamos este estímulo de várias formas.
Um exemplo cabal: dar uma palestra para um grande público. Esta pode ser uma situação que desperta o desejo quando a pessoa olha para a repercussão e o status que significa ter um grande público e ao mesmo tempo medo quando ela pensa na avaliação que todas essas pessoas – e a imprensa – farão do que ela irá dizer. Então o desejo se torna dúbio, porque ele envolve os dois aspectos ao mesmo tempo, ou seja, não há como dar uma palestra para um grande público sem que este faça alguma avaliação de si.
O medo é uma das emoções mais comuns que acompanha o “quero, mas não quero”. Embora as pessoas relatem dúvida, esta não é a mais importante, pois é, na verdade decorrência do medo. Ou seja, ao sentir medo de receber avaliações, a pessoa “sente dúvida”. O que ocorre de fato é que diante do medo ela se retrai e diz que isso é dúvida, mas não é. O que mais se aproxima é “falta de preparo” para lidar com situação que deixa com medo, por exemplo: falta de confiança no seu conteúdo, capacidade para lidar com críticas, conhecimento dos limites do seu saber (ainda no caso da palestra).
A pergunta então é: o que, especificamente, não quero nesta situação? Outra forma de perguntar é: de que maneira esta situação seria ideal para mim? Ou ainda: O que deveria ocorrer ou não ocorrer, para eu “ter certeza” de que quero isso? Essas perguntas vão ajudar você a identificar aquilo que não quer e que, provavelmente, teme ou não sabe lidar. Com isso em mãos o ponto seguinte é se perguntar como você pode fazer para não se impedir de ir atrás daquilo que quer por causa deste fator.
Fazer esta pergunta, no entanto, é aprender a avaliar a situação e seus limites diante dela. Não é raro, em terapia, que algumas pessoas compreendam que dar um passo para trás afim de aprenderem a lidar melhor com a situação é uma atitude sábia. Primeiro não vou, mas não porque não quero e sim para aprender a lidar com o que temo. Uma vez que aprendo e me sinto mais seguro vou atrás com o “desejo limpo”. Com esta percepção é mais fácil entender e lidar com aquilo que “queremos, mas não queremos”.
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