• 27 de fevereiro de 2013

    Nunca mais

    – Eu não sei Akim, foi isso que eu te falei: estou mal e não sei com o que!

    – E aí, o que você acha que está pegando?

    – Já te falei que não sei!!

    – Você me falou sobre um monte de coisas hoje… família, relacionamento, trabalho, faculdade, amigos etc… mas tem um ponto que você não quer falar não tem?

    – (silêncio)

    – Tem algo que você sabe bem que está à flor da pele… e sobre isso você não quer falar… vou esperar por você decidir.

    – Eu sei sobre o que você está falando… mas não sei se quero falar.

    – Ok, tome o seu tempo para decidir.

    – Ah que droga! Não adianta não querer falar disso… praga!!

    – É… não adianta mesmo… Vamos começar pelas beiradas… porque você não quer falar sobre isso?

    – (Silêncio) É que… depois do colegial eu prometi que nunca mais ia viver este tipo de coisa que estou vivendo agora!

    – Hum… promessa difícil de cumprir não é?

    – Ah… pois é… mas eu acho que é isso sabe? Eu tinha prometido para mim… eu não queria viver isso nunca mais!

    – Eu sei… e entendo porque é muito dolorido, mas isso é pelo que você está passando agora… se não viver isso agora terá que ficar mascarando o óbvio e isso também dói, não dói?

    – Dói… na verdade… não é que dói… é que dá muito trabalho tudo, eu vivo tenso e tem essa… porra desse fantasma que fica na minha cabeça o dia todo!

    – Pois é… Eu sei que naquela época foi esta a promessa que você fez, mas que tal atualizar a vida… muito tempo se passou não foi?

    – Talvez esteja na hora mesmo…

    A adolescência é uma fase em que as pessoas fazem muitas promessas para elas próprias: de que não vão mais sofrer, não vão mais amar, não vão mais se decepcionar… São promessas que não são muito estudadas dentro da Psicologia de forma geral, mas que tem aparecido muito no meu consultório e resolvi escrever este post para falar sobre elas.

    Geralmente elas advém de uma crise ou um problema que a pessoa viveu na época e que a solução não foi exatamente “feliz”, daí a frustração e daí a promessa. O grande problema de realizar uma promessa neste momento é que não temos uma solução boa para resolver o problema, portanto, fazemos uma promessa com uma qualidade baixa de entendimento e resposta emocional e comportamental.

    Esta promessa começa a guiar a vida da pessoa de uma forma inadequada pois ela passa a evitar as situações que a aproximam daquela situação vivida tempos atrás. Esta evitação a mantém “incompetente” à respeito de como lidar com a situação e com seus próprios afetos em relação à situação. Quando dizemos “nunca mais” é importante lembrarmos que esta palavra pode se gravar em nossa mente e realmente criar a ilusão de que poderemos “nunca mais” passar por algo… mas, como se vive sem “nunca mais” sentir amor? Vontade de ficar com alguém? É muito difícil e as defesas criadas para estes fins mais atrapalham do que ajudam.

    Assim, é importante lembrarmos das promessas que nos fizemos na adolescência porque podemos estar usando-as ainda como forma de guiar nossas vidas – nem sempre para melhor. Recapitular estas promessas nos abre a possibilidade de atualizarmos o que prometemos e, com isso, termos uma vida mais adulta e mais feliz.

    Abraço

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