• 1 de maio de 2019

    Porque eu não me responsabilizo pela minha vida?

    – Eu sinto que eu quero, mas não consigo… você sabe… é difícil.

    – O que te faz achar que isso é  difícil?

    – Eu não sei.

    – Eu acho que sabe, mas talvez também seja difícil dizer isso.

    – Sim.

    – Me parece que talvez você sinta que assumir a responsabilidade pela sua vida pode ser, de alguma forma, ruim, estou certo?

    – Sim…

    – Você conseguiria me dizer de que forma você acredita que isso pode ser ruim?

     

    É algo verdadeiro que assumir a responsabilidade pelas escolhas que fazemos é parte fundamental em qualquer processo de mudança. Porém, para muitos de nós, esse ato nem sempre remete à algo “bom”. Pelo contrário, muitas pessoas sentem que é melhor esquivar-se da responsabilidade, pois, se de um lado a vida pode não melhorar, de outro, não irá piorar.

    Olhar para esta ideia enquanto comodismo, no entanto, pode dar uma noção completamente equivocada de fenômenos bem mais importantes que ocorrem dentro de nós. Um exemplo comum é quando a pessoa possui um pensamento do tipo “tudo ou nada”. Neste caso, ela crê que se assumir a responsabilidade por algo ela tem que dar certo – e muito certo – ou nada terá valido a pena e isso significará que ela é um fracasso. Este tipo de pensamento torna a responsabilidade um verdadeiro peso a ser evitado e não uma ferramenta a ser utilizada.

    Outra dinâmica envolve a pessoa que com a “não ação” conseguiu um pequeno controle sobre sua vida. É o caso de famílias que cobram demais seus filhos, por exemplo. Desde cedo a pessoa é bombardeada com responsabilidades e precisa dar conta de todas. Assim sendo, consegue, ao não agir e não assumir responsabilidades, mostrar seu descontentamento, sua “pequena revolta”. Ao ceder e assumir responsabilidades, sente-se como se estivesse dando o braço a torcer aos pais novamente. Percebe a responsabilidade, portanto, como uma perda ao invés de um ganho.

    Em todas estas situações e em várias outras dinâmicas o sentimento é de que assumir a responsabilidade é algo ruim e nocivo, que de alguma maneira irá se virar contra a pessoa. De certa, forma, ela teme a responsabilidade. É importante compreender as associações precisas que foram feitas com a responsabilidade. Acima citei apenas duas, mas existem várias. O ponto, então, é compreender que estas dinâmicas tem a ver com apenas um aspecto vivido pela pessoa em relação à ser responsável, mas que essa atitude não precisa ser apenas aquilo.

    Por exemplo, é possível que alguém com pensamento tudo ou nada tenha ouvido isso de sua família. Porém, continuar achando que tudo na vida é uma questão de tudo ou nada não é adequado. Se você planeja economizar R$ 1000 e consegue apenas R$ 800, você não joga isso fora e trata como “nada”. Ser responsável, para este tipo de dinâmica é algo que precisa ser redefinido em termos de que os resultados atingidos não precisam sempre ser perfeitos, que existe uma margem na qual podemos trabalhar e que não conseguir na primeira vez, não significa o fracasso total.

    O segundo caso ilustrado, também precisa de correções em sua percepção da responsabilidade. Neste caso, é fundamental que a pessoa entenda o que é bom para ela e o que não é de acordo com suas próprias perspectivas. Muitas vezes isso significa “concordar” com os pais, porém essa concordância não pode ser vista como “estou dando o braço a torcer”, mas sim como algo que foi descoberto pela pessoa e que, por acaso, combina com o pensamento dos pais, outras descobertas irão contra, mas o ponto é se a pessoa está percebendo por ela mesma.

     

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