• 17 de junho de 2019

    Assim é mais fácil

    – Mas é mais fácil eu ficar sem fazer nada.

    – Não entendi.

    – Ora, fazer dá trabalho e não fazer não dá.

    – Não entendi ainda.

    – Ué Akim, se eu fizer, tenho que pegar ir lá e fazer, mas se não fizer nada, é mais fácil. Eu só fico parado.

    – Ok, mas e o objetivo final?

    – Como assim?

    – Ué, você “tem que estudar” para que?

    – Passar na prova.

    – Pois é, de que maneira “não fazer nada” é mais fácil para este fim?

    – Ã, bem, pensando assim não é né?

     

    Um dos fenômenos mais comuns na prática clínica são distorções lógicas. Em geral, elas ocorrem com base em outros fatores internos como crenças, hábitos inadequados ou emoções que desejam ser evitadas. Mas estas falácias criam estas ciladas como acima, parece uma conclusão óbvia, mas não é.

    No exemplo acima, temos uma omissão de efeito. Isso ocorre quando a pessoa determina que um comportamento “é melhor”, “é mais fácil”, “é mais cômodo”, “é mais rápido”, fazendo uma comparação inadequada, pois compara dois finais diferentes. No exemplo entre estudar e não estudar ele elege que o segundo “é mais fácil”, porém o objetivo é aprender, assim como que não estudar “é mais fácil” que estudar? De outra forma: se eu quero passar na prova, o que é “mais fácil”: estudar ou não estudar?

    A pessoa tende a se fixar no benefício a curto prazo e esquecer o que ela de fato quer. No caso acima a pessoa não queria ter o trabalhar de estudar, pois achava a matéria difícil. Assim sendo “não estudar” lhe proporcionava afastamento do sentimento de incompetência e, por este motivo, ela realmente desejava ficar longe dos livros. É importante compreendermos o que ganhamos e do que nos afastamos quando fazemos este tipo de escolha.

    Isso é importante porque é quando se compreende isso que  podemos rever as escolhas que estamos fazendo e verificar se elas são adequadas para nós. A escolha do tipo “é mais fácil” pode ocorrer e ser útil, mas apenas quando está sendo comparada com elementos iguais. Por exemplo, eu posso dizer que se eu ler o conteúdo de minha prova e fizer um resumo e mapas mentais, mais próximo do dia da prova será mais fácil eu estudar a partir dessas anotações do que ler todos os textos novamente. No entanto, desta forma eu continuo estudando o conteúdo da prova.

    Crenças como “tenho que mostrar que sou bom”, “não posso falhar”, “sou burro”, tendem a nos afastar daquilo que é um pouco mais difícil ou daquilo que dá trabalho, também podemo nos afastar de metas importantes de vida porque a avaliação que fazemos da possível falha é tão ruim que as pessoas preferem evitar tentar do que tentar e não conseguir. Dessa forma o desejo por dar certo acaba atrapalhando a vida da pessoa.

    Em outro post falei sobre aprender a lidar com erros e isso é muito importante. Também o é reconhecer o que queremos evitar e aprender a confrontar isso. Em geral as crenças negativas ou emoções difíceis mais assustam do que são verdades. Ocorre que sentimos isso como verdade e passamos a nos esquivar de qualquer coisa que nos leve nessa direção. Porém, ao confrontarmos isso vamos encontrar algo incrível: o fato de que errar não acaba com a gente, nos fortalece e deixa mais prontos para as próximas.

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