– Mas ele é muito… sei lá.
– Sei lá, nada, sabe sim. Diga o que acha.
– Ele não sabe fazer nada, é um bundão.
– Claro, bem diferente de quem?
– Meu avô. Ele sim sabia fazer tudo.
– Menos dar atenção para as suas emoções né?
– Ninguém é perfeito.
– Sim, nem o seu ficante, nem o seu avô e nem mesmo você.
– Tá querendo me irritar né?
– Não, apenas mostrar que o “bundão” foi exatamente o que te faz ficar com ele.
– É… eu sei disso…
Um dos fatos mais comuns é termos certo preconceito com as dificuldades dos outros. É comum termos relações complementares, o que significa que a força de um é a dificuldade do outro e, com isso em mente, se torna simples sentir certo preconceito. É o como as pessoas falam das dificuldades e defeitos daqueles com quem convivem, geralmente de um lugar onde elas se percebem “por cima”.
Qual é o efeito disso para a relação? Confusão, raiva, medo, vingança… Quando uma das pessoas está “por cima”, ela olha o outro, a si mesma e a relação com um olhar, porém, quando está “por baixo” esta situação se inverte. Em vários momentos as pessoas se perguntam: “mas afinal de contas, eu sou forte ou sou fraco… ou estou meio louco?” Isso porque a oscilação das emoções também é profunda. Este cenário é típico em qualquer relação e retrata a fase de “luta pelo poder”.
Ao mesmo tempo, muitas vezes aquilo que se considera defeito no outro, realmente incomoda. Obviamente, isso não justifica o desdém, mas, então, como lidar com isso? Me parece que o primeiro passo é aprender a olhar para as suas dores e dificuldades. Assim, podemos olhar para as dificuldades do outro no mesmo nível, ou seja: “eu e você temos dificuldades, sei como é ruim isso”. Este ato cria o espaço para a empatia.
A partir disso, também me percebo enquanto ser que vive com o outro. Percebo qual o efeito das dificuldades do outro em mim buscando separar o que é um problema de uma implicância. Em outras palavras: muitas vezes o “defeito” do outro nos afeta na nossa “vaidade” ou nos nossos problemas pessoais. E isso não é algo que o outro deve resolver, mas sim, a gente. De outro lado, aquilo que realmente me fere, aquilo que passa os limites com os quais consigo viver bem deve ser expresso ao outro.
O mesmo vale para nós, porém a ideia não é criar uma competição e sim cooperação. Mas isso implica em atos concretos e resultados diferentes ao longo do tempo. Quando se atingem estas metas, cria-se intimidade. Este é um ponto no qual a relação avança. Onde cada um se entrega com seus problemas, onde cada um se sente confortável em ser forte e fraco ao mesmo tempo e onde as “cobranças saudáveis” (por falta de termo mais adequado) podem surgir e são vistas com bons olhos.
O contrário disto é o que temos no mundo. As pessoas expondo, de forma sarcástica, em encontros com os amigos num bar os defeitos e dificuldades dos outros sem levar em consideração os seus próprios. Novamente, não se trata de criar uma competição ou do fato dos defeitos dos outros não serem capazes de nos ferir, mas, sim, de sermos empáticos e humanos com o intuito de gerar relações mais saudáveis. O “psico preconceito”, é isso, uma atitude de desvalorização dos elementos da psique do outro, entendendo isso como digno de ser desprezado.