– Eu fico pensando no que os outros vão dizer.
– Ou fica pensando que eles vão desaprovar a sua ideia?
– É mais isso mesmo.
– Pois é. E se isso acontecer? E se pai, mãe, tia, cachorro, papagaio desaprovarem? Você joga fora a sua ideia?
– Então… não sei… acho que nesse momento sim.
– E porque eles tem que aprovar?
– Para eu me sentir mais seguro?
– Ou para não se sentir sozinho?
Tendemos a criar uma imagem sobre “seguir o seu próprio caminho”. Vemos as pessoas famosas que fizeram isso e queremos ser como elas: celebradas por muitas pessoas. Porém, seguir o seu caminho e fama, nada tem em comum. O caminho, mesmo com a fama é sempre solitário.
Num primeiro momento, nos dá força pensar que não precisamos da aprovação de ninguém. Entendemos que nosso destinos está em nossas mãos e que isso é mais importante do que tudo. Olhamos, fortes e confiantes para frente e nos dizemos: vou para a vida. Esta força é importante e faz parte do processo. Assumir quem somos e o caminho que escolhemos traz a nossa força à tona. E uma sensação de plenitude se instaura em nós.
Ao mesmo tempo, também sentimos uma solidão profunda. Ao colocar os pés para fora do portão, logo ela chega. Olhamos para trás e dizemos: “realmente estou sozinho”. Esta é a segunda parte da força: a solidão. Quando se percebe que o caminho é solitário, também se entende que ninguém poderá vir nos salvar de nosso destino. Que cabe à nós e apenas a nós trilhar esta jornada. Esta percepção da solidão é dolorosa muitas vezes, pois queremos apoio, mesmo sabendo que ninguém pode realmente nos apoiar neste sentido.
Mas o que acontece quando juntamos essas duas sensações? Me lembro quando fiz o caminho de Santiago de Compostela na Espanha em 2011. Caminhando pelas planícies eu olhava quilômetros de nada para todos os lados e o sol na minha cabeça. Apenas pensava: o que estou fazendo aqui? Um mês de férias para ficar aqui? Devo ser muito burro mesmo! Parei num café e só saí de lá quando entendi o motivo pelo qual continuar.
“Porque este foi o caminho que escolhi”. Pode parecer uma resposta tola ou simplista, mas não é. Reclamar do caminho e se sentir perdido em meio à ele faz parte do caminho. Mas saber que apenas nós podemos trilhar aquela trilha ao mesmo tempo que nos faz sentir sós, nos dá força através da solidão. É como se você fosse uma peça no meio de uma grande engrenagem, somente você faz o seu movimento, mas sem você, tudo para. A nossa existência é esta engrenagem que está dentro de uma ainda maior. E somente sozinhos conseguimos obter esta força.
Estar só nos faz forte pois a solidão é, também, presença e autonomia. Ela representa quilo que temos de único neste mundo e daí emerge a nossa força. Ela não nega a dor, o desprazer e as dificuldades, mas, sim, registra isso tudo e coloca para nós enquanto escolha de força. Quando tomamos as dores que a nossa existência nos traz e fazemos algo com isso, saímos mais fortes, quando negamos, ficamos mais fracos. Quando pedimos por força, a vida nos dá pedras. Se as carregamos, nos fortalecemos.