– Me sinto mal com isso.
– O que você sente?
– Me sinto culpada pelo que aconteceu.
– Entendo. Foi algo difícil para você essa repercussão não?
– Sim, não imaginei que isso ia acontecer. Fiz para dar o contrário.
– Talvez este seja um motivo para você se desculpar então.
– Como assim?
– Ora, você não fez nada digno de culpa, fez? Entendo sua tristeza com o resultado, mas será que culpa é adequado?
– É… pensando assim…
Muitas pessoas confundem culpa com responsabilidade, trocam de lugar com outras pessoas e assumem para si uma culpa alheia. Estas dinâmicas são difíceis e cheias de dor, mas é importante entender: qual é a lei que eu sigo que me faz sentir a culpa?
Pelo que podemos nos sentir culpados? Tecnicamente falando, podemos sentir culpa por aquilo que fizemos. Existe um ato pelo qual sentimos culpa. Isso é importante, muitas pessoas se julga pelos resultados de suas ações, mas a culpa reside na ação. Por exemplo, tentar matar alguém e não conseguir não livra a pessoa da culpa na tentativa de homicídio. Algumas vezes, resultados ruins em nossas vidas não são nossa “culpa”, apenas nossa responsabilidade, ou, às vezes, nem isso.
Porém, o ato, por si só, não determina culpa. É necessário que uma regra esteja presente também. Compreender qual é esta regra é o ponto fundamental da análise da culpa. Muitas vezes, seguimos regras que não são nossas, usamos parâmetros inadequados para nos atribuir responsabilidade ou simplesmente assumimos culpa de terceiros. É comum que regras de nossas famílias e cultura atuem sobre nós sem nossa permissão, por exemplo. Neste caso, precismos reconhecer a regra e decidir se vamos usá-la da mesma forma que a aprendemos.
Os parâmetros podem ser inadequados quando, por exemplo, a pessoa decide responsabilizar-se por algo que está além de sua capacidade. É o caso de um filho que decide salvar o casamento dos pais e “falha”, sentindo-se culpado por isso. A atribuição de culpa por resultado negativo também faz parte disso. A pessoa sente-se culpada pelo resultado negativo sem levar em consideração se suas ações foram, de fato, merecedoras de culpa.
Assumir a culpa de terceiros é algo muito comum em processos familiares. Uma filha, ou um neto acabam assumindo para si a culpa que um pai ou avó sentem. Um membro assume para si a culpa por identificar-se com esta pessoa de alguma maneira ou para protegê-la (tema de muitos livros e filmes). Neste caso, cria-se um segredo que nem sempre é consciente. Muitas vezes o genitor “sente-se bem” com a situação que lhe tira um peso dos ombros, mas é necessário que a culpa “retorne” para quem lhe gerou.
A dinâmica da culpa é abrangente até por envolver uma confusão entre responsabilidade e culpa. A responsabilidade está ligada à ação, a culpa ao sistema de leis e moral que avalia aquela ação. Matar alguém, por exemplo, é um crime, mas no advento de uma guerra torna-se algo digno e um “herói de guerra”, frequentemente é uma pessoa que matou muitas outras. Ser responsável é um pré requisito para a culpa, mas a responsabilidade e os resultados das ações, por si sós não são suficientes para causar culpa em alguém.