• 8 de abril de 2013

    Exposição

    – A minha mãe me expunha demais, eu não gostava disso!

    – Como ela fazia isso?

    – Ela ficava me mostrando para as amigas, elas achavam lindo, mas eu não gostava, queria brincar só e não ficar como objeto de exposição.

    – Entendo. Como você lida hoje com expôr-se?

    – É complicado para mim, eu tenho uma certa aversão, me lembro sempre de como me sentia antes.

    – Então hoje, quando você tem que se expôr, é como se você fosse uma criança novamente?

    – Mais ou menos isso.

    – Mas colocar uma criança num papel adulto não dá muito certo mesmo não é?

    – É verdade…

    – Como seria se você colocasse um adulto no lugar da criança quando você precisa se expôr.

    – (pensativo) Acho que eu não me lembraria da minha mãe me expondo para as amigas e pensaria no que eu quero ali… afinal de contas não vou ficar me expondo à toa não é?

    – Com toda certeza: propósito de ação me parece uma coisa bem adulta. Imagine a última vez em que você precisou se expor e imagine como seria se você fizesse desse jeito.

    – (pensativo) Hum… parece que tira um peso do meu peito… me sinto mais leve… confiante até!

    – Ótimo!

     

    Exposição é um tema delicado e complexo para o ser humano. Mostrar o que temos em nós significa que aquilo poderá ser aceito, rejeita do ou ignorado. Conviver com esta certeza não é algo fácil para muitas pessoas.

    Alguns dos temas que começamos a trabalhar é como a pessoa aprendeu a se expor – ou, no caso – ser exposta. A diferença é muito grande, quando somos expostos podemos gostar daquilo ou não, desejar aquilo ou não; de acordo com isso a pessoa começa a associar a exposição com experiências boas ou ruins, agradáveis ou desprazerosas.

    Além disso trabalhamos com uma noção importante: a resposta frente à exposição pode ser de aceitar, rejeitar ou ignorar o conteúdo da proposta e não o eu da pessoa. O “eu” de alguém não pode ser negado, aceito ou rejeitado por alguém simplesmente porque o ser humano não tem acesso à totalidade do “eu” de ninguém. Podemos ignorar comportamentos, solicitações de afeto, desejos, mas não o “eu”. Essa noção é muito importante para que a pessoa não leve a resposta “para o lado pessoal”.

    Por final, um outro elemento é o o que, como e para que se expôr. No caso acima, a pessoa fazia um trabalho mental de colocar-se no papel de criança toda vez que ia se expôr. Obviamente, como suas experiências infantis não tinham sido adequadas, ele não gostava da experiência. No entanto, uma vez que começou – e o trabalho depois disso se aprofundou – a se colocar como adulto – assumindo uma nova atitude frente à exposição – ele começou a perceber a exposição de uma nova forma, com novos recursos para usar. A noção de propósito foi a primeira: para que vou fazer isso? O que é muito saudável: ele tinha aprendido a ser um “objeto de exposição”, agora estava expondo o que queria e com um motivo próprio, ou seja, estava buscando algo ao se expor.

    Abraço

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