– Percebi então o seguinte: eu recebia a grana do meu pai e achava que, por causa daquela grana, eu não estava construindo o meu futuro.
– Hum e o que você fez?
– Bom, daí eu entendi o seguinte: o dinheiro que eu recebia dele eu poderia simplesmente guardar e viver apenas daquilo que eu ganhava.
– Hum e então?
– E então que caiu a ficha: Eu já estou cuidando da minha vida… uma coisa não tem nada a ver com a outra.
– E como foi perceber isso?
– Cara… foi uma coisa do tipo: meu, você demorou tudo isso para perceber o óbvio? (risos) Mas foi bom, libertador e assustador ao mesmo tempo, como toda boa liberdade eu acho.
– Com certeza.
As pessoas criam relações de dependência. Depender de alguém de forma concreta – assim como o bebe depende de alguém que cuide dele – é uma coisa, porém a dependência emocional nada tem a ver com a dependência concreta, a prova disso é que muitas das pessoas dependentes são as que cuidam dos outros.
A dependência possui uma característica importante no que tange à forma pela qual o dependente percebe o mundo: ele coloca o outro como mais importante do que ele, mais capaz, superior ou detentor de algum tipo de dívida à qual o dependente deve sanar. O traço básico da dependência que percebo em vários clientes é este.
Uma vez que a pessoa consegue colocar o outro num lugar mais adequado e se colocar em primeiro lugar a dependência começa a perder a sua força e a pessoa passa a “se impôr”. A pessoa pode depender da outra de várias formas, mas uma que tenho tido especial atenção é quando a pessoa identifica-se no papel de dependente. Este caso é particularmente interessante, pois é o caso no qual o julgamento da pessoa sobre si é o de dependente. Por exemplo: “não presto para nada mesmo”, “preciso dos outros”; são algumas das frases que tenho visto.
O caso do rapaz acima é um deles. Ele já ganhava o seu dinheiro, ganhava mais do que o pai mandava para ela, mas mesmo assim continuar a “agir como” um dependente, continuava se vendo no espelho como um garoto e não como um homem e, daí tinha atitudes de garoto e não de homem. Ele já possuía várias competências e habilidades para se virar na vida, mas enquanto percebia-se como dependente ele não ousava usar a sua forma de ser no mundo de forma plena e integrada ficando sempre com uma sensação de que tinha deixado de fazer algo importante.
Um tema que gosto de começar é pelas competências da pessoa (quais as suas?) ajudando-a a perceber como ela é boa no que faz e no que ela é boa. Também começamos a trabalhar com a noção de quais suas forças e quais forças seria bom desenvolver. Isso dá mais auto-confiança.
Depois disso passo para trabalhar a auto-estima da pessoa para ajudá-la a perceber o seu lugar no mundo, algo como “mereço ser feliz”. Esse merecimento é importante de ser sentido. A auto-estima precisa ser aumentada de acordo com as necessidades da pessoa fazendo com que ela crie um senso daquilo que é importante para ela e daquilo que a machuca enquanto ser humano. Também trabalhamos com a aceitação pois sem ela não existe auto-estima.
E finalmente vamos para a parte da identidade, ajudar a pessoa a alicerçar uma nova visão de eu. Gosto do processo desta forma porque quando chegamos na etapa final muito do trabalho já está pronto e é mais fácil para a pessoa identificar-se com uma visão de si se ela já viveu algumas das experiências benéficas e então entramos no trabalho da integridade: ser um só com o que você pensa, age e sente.
Este rapaz teve esta sacada neste momento da terapia dele. Foi assim que ele começou a olhar-se no espelho e ver um homem adulto.
E você… o que vê no espelho?
Abraço
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