• 5 de junho de 2013

    Re-encontrar-se

    – Preciso me reencontrar…

    – Hum… faz tempo que você se perdeu de si própria?

    – Faz algum…

    – Entendo… e você se lembra de onde foi que se perdeu de você?

    – (Fica em silêncio, me encarando) Não!

    – Ok… bem, acho que vou fazer o seguinte: vou deixar você aqui um tempinho sozinha para ver se você consegue se encontrar, pode ser?

    – Como assim? Eu vim aqui para você me ajudar a me encontrar e você vai me deixar sozinha??

    – Sim, veja: você SE perdeu… precisa SE encontrar… nada melhor que ficar SÓ com VOCÊ… o que você fazia que dava sentido para sua vida? (levanto e saio da sala deixando a cliente com alguns resmungos e volto uns 15, 20 minutos depois, encontro ela com um pedaço de papel na mão com os olhos lacrimejando suavemente e recomeço a conversa)

    – E aí, como foi?

    (Ela olha para mim e me entrega o texto para ler, uma bela poesia enquanto eu leio ela diz) – Está tudo aí: quando me perdi, porque e o que eu tenho que fazer… tudo em verso… que era o que me dava sentido antes: beleza, suavidade… agora sou dura e feia, mas posso me… já me reencontrei, só tenho que me levar para casa agora.

    – Ótimo!

    Joseph Campbell diz que toda pessoa precisa de um “espaço sagrado” que ele conceitua como uma certa hora do dia, um certo local ou uma certa atividade que a pessoa faça na qual não sabe o que está acontecendo lá fora, quanto deve ou quanto lhe devem. Um tempo para ela, simplesmente ficar só e permitir que algo surja de dentro dela, algo que alimente a alma. Ele não coloca que você deve comprar algo, apenas estar em contato consigo.

    É interessante esse exercício porque muitas pessoas não sabem mais “ficar consigo”. Geralmente isso é tido como “depressão” ou “isolamento”. Como se ficar só “sem fazer nada” fosse algo de uma pessoa doente. Concordo que ficar assim o dia todo, todos os dias é algo que pode ser danoso, mas não é disso que estamos falando, é de tirar um tempo para si, e sem compras, apenas um tempo para si.

    Foi o que fiz com esta cliente. A expectativa dela era que a terapia lhe entregasse ela novamente, algo do tipo: comprei a terapia e vou ganhar eu novamente. Quando a coloquei só na sala ela se forçou a buscar-se, algo que, provavelmente não fazia a muito tempo. E foi muito belo o processo que ela desenvolveu a partir daí. Ela estava tão ocupada com o “fora” que não havia mais tempo para o “dentro”, e por motivos nobres: ela precisou alimentar a família toda depois da morte do marido, e fez isso com esmero, mas o custo havia sido um lado dela que “ficou de lado” enquanto esse processo ocorria.

    Quando ofereci o espaço já imaginava que ela ia achar ruim, mas sabia que deveria deixá-la com ela mesma, sem mais nada ou ninguém. Então a poesia dela voltou. A terapia é um processo no qual vamos junto com a pessoa até a porta, mas é ela quem deve abrir. No caso desta cliente a porta foi aberta e ela rapidamente gostou muito do que viu mais tarde.

    E você? Qual foi a última vez que parou para ficar só com você? Tem medo disso?Acha estranho? Sua vida “só tem sentido quando faço com os outros”? Este exercício é ótimo para se fazer, ele literalmente nos tira do dia a dia e nos coloca em um outro mundo, no nosso e isso não nos traz dinheiro, fama e status… apenas alimenta a alma, se você acha que isso vale à pena, experimente!

    Abraço

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