• 7 de janeiro de 2013

    Permissões

    – Tenho percebido estes comportamentos em mim e a quantidade de energia que eu gasto pensando no meu namorado.

    – Legal, mas vamos lá: pensando no que, especificamente?

    – Pensando no que eu tenho que estar fazendo para agradar ele, ou no que fazer para que ele queira fazer as coisas comigo.

    – E porque você precisa agradá-lo tanto assim?

    – Eu acho que é porque eu quero que ele aprove o que eu quero fazer também sabe?

    – Sim, sei sim. Ou seja, você agrada ele com a intenção de que ele aprove o que você quiser fazer mais tarde. Quase como se fosse algo do tipo: eu te agrado e você faz comigo o que eu quero fazer?

    – É bem isso!

    – E porque você precisa da aprovação dele?

    – (Silêncio) Eu não quero que ele me deixe se eu disser o que eu quero… ou que brigue comigo, fique me questionando.

    – Entendi, mas vamos lá: se você não quer que ele brigue com você ou te questione sobre os teus desejos, ficar agradando ele é a resposta adequada?

    – Não sei, é?

    – Pergunte-se se esta “estratégia” tem atingido seus propósitos?

    – Bem… não. E me deixa muito braba quando não acontece.

    – Pois é… ele não tem que querer o que você quer, quem deve aprender a defender o seu desejo é você! E aí aprender o que fazer quando te questionam, quando brigam contigo, quando o outro não quer fazer algo com você.

    – Hum… entendi… tenho que começar então né?

    – Vamos lá!

     

    Negociar a presença em eventos, gasto de dinheiro, viagens é algo comum em todo relacionamento. Na verdade é uma competência importante para a boa convivência do casal.

    No entanto, existe uma diferença entre negociar e depender da aprovação do outro. Negociar significa que eu tenho um desejo e quero vê-lo pelo menos em parte realizado; vou atrás deste objetivo e toda o sacrifício que possa vir à fazer está em prol deste objetivo. Quando dependo da aprovação do outro é uma questão de tudo ou nada: ou terei ou não terei; além disso é o outro quem define e não eu ou “nós”.

    Gostaria de fazer um parênteses aqui: a decisão do “nós” é algo que cada vez mais perde lugar em nossa sociedade. O que significa a “decisão do nós”? É quando cada um escuta e valida o desejo do outro buscando através da flexibilidade de comportamento de cada um dos membros do casal realizar ambas as intenções. Cada vez menos pensa-se no “nós”, cada vez mais pensa-se no “eu” o resultado é que o medo de que os meus desejos não se concretizem tem aumentado cada vez mais assim como a importância atribuída à esses desejos. No longo prazo temos pessoas cada vez menos competentes na arte da negociação pessoal, na arte de ser empático com  o próximo e – principalmente – cada vez mais na defensiva com relação à qualquer “não” ou “vamos negociar?” que possa surgir. Temos criado uma cultura de intransigência. O contraponto é, obviamente, o tema de hoje: aquele que depende da aprovação do outro.

    Pessoas dependentes da aprovação do outro devem aprender a aumentar o valor de suas escolhas, aprender a negociar e, principalmente, aprender a dar um feedback interno – de si para si próprio – sobre o que é bom para si e o que devem fazer com suas vidas. Este tipo de atitude difere da atitude citada acima de intransigência. Saber o que é bom e importante para si não significa negligenciar ou negar tudo o que o outro deseja ou requisita, mas sim saber avaliar o seu desejo e o desejo do outro tendo como base o que é mais importante: o bem-estar da relação.

    Joseph Campbell disse uma vez que o casamento é uma provação cuja prova é o sacrifício do ego. Isso não significa que não posso mais desejar, mas sim que meus desejos, visto que estou em uma relação agora não dizem mais respeito apenas à mim, mas sim para mim e para a pessoa com quem estou. Alcançar esta harmonia, creio eu, será o grande desafio para a nossa sociedade nos dias futuros.

    Abraço

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