• 16 de janeiro de 2013

    Merecimento

    – E eu quero muito outra pessoa, mas não sei se mereço…

    – Entendo… o que te faz crer que não merece?

    – Ah, sei lá… eu simplesmente acho que não é para mim sabe?

    – Como assim? Não é para você porque você não se acha capaz de conseguir ou porque acha que tem algum defeito que a impediria de ter acesso à isso?

    – (Silêncio) Eu acho que um pouco dos dois sabe?

    – Não, me conte mais.

    – Eu não sei chegar em uma mulher, esta que esta comigo foi meio que sorte sabe?

    – Entendi, e o outro?

    – Ah sei lá, eu me acho meio chato para falar a verdade. E… não consigo me abrir direito, acho que sou burro, não sou uma pessoa legal, boa.

    – O que te faz crer nisso?

    – Chato porque eu sou meio nerd e gosto de falar destes assuntos, burro porque sei lá… tipo, eu sou meio lerdo para falar com as pessoas sabe? E eu, às vezes tenho muita raiva das pessoas, daí acho que não sou uma pessoa muito bacana, sei lá, não deve ser certo sentir isso.

    – Entendi… hum, temos um monte de fatores aí. Vamos um passo por vez, mas antes disso me diga: se você sentisse que sabe falar de vários assuntos, estivesse mais “ligeiro” para falar com as pessoas e soubesse como administrar suas raivas sentiria-se merecedor?

    – Acho que sim… sim.

    – Perfeito, a ideia agora, então é ajudar você com estes elementos. Muitas vezes não vamos atras de algo que achamos que não é para nós ou não merecemos, mas ficar parado por causa disso não é uma boa ideia.

    – É… nunca pensei por este lado.

    – Ótimo, agora você pode!

    – Legal!

    Merecer significa “estar nas condições de obter, ser digno de”, existe uma frase de Luís de Camões que diz: “melhor é merecê-los, sem os ter, que possui-los sem os merecer”. A temática do merecimento é muito comum em nossa cultura e nos faz refletir sobre ter ou não as competências necessárias para conquistar algo.

    Assim “merecer” é algo muito simples: merece aquele que consegue conquistar. Para cada conquista um leque diferente de habilidades é requerido e nunca temos apenas uma forma de alcançar um objetivo. Conquistar a confiança é diferente de conquistar uma posição em uma empresa, mas um pode incluir o outro. Se eu não consigo passar confiança, dificilmente terei uma posição mais elevada em uma empresa.

    Desta forma quando alguém diz não ser merecedor o que temos que avaliar é se ela está se referindo às competências necessárias para alcançar algo, se está fazendo um juízo moral de si ou se está colocando obstáculos em seu caminho.

    Quando a pessoa está, de fato, se referindo à competências o “tratamento” tem a ver com a pessoa desenvolver habilidades. Sim, baixa auto-estima pode ter a ver com a simples aquisição de um comportamento, principalmente se este comportamento é desejado e faz bem à pessoa que o deseja ter mas não o possui.

    Quando temos um juízo de valor a ideia é perceber se o juízo tem algo à ver com a conquista do objetivo em si. Por exemplo, uma pessoa que é altamente criativa e escreve muito bem, mas que é altamente desorganizada e sente-se envergonhada de mostrar seu trabalho, algo como: “sou desorganizada portanto ninguém vai gostar do que escrevo”. Neste caso uma coisa não tem nada a ver com a outra, é de conhecimento geral que muitas vezes o artista tem uma péssima organização, seu ateliê é um verdadeiro caos, porém seus escritos são ótimos, fantásticos; então vamos separar uma coisa da outra e ajudar a pessoa a reforçar sua auto-imagem de artista de sucesso (e desorganizado). Se o juízo de valor tem algo à ver voltamos à primeira etapa e vamos ajudar a pessoa a contornar a situação com a aquisição de novos comportamentos e atitudes. O Juízo de valor também pode ser uma questão emocional que precisa ser trabalhada de uma forma diferente, tem mais a ver com a forma pela qual a pessoa percebe uma dada emoção e vai culminar na aprendizagem de saber lidar de uma forma diferente com esta emoção.

    No último caso, a colocação de barreiras, podemos ter duas atitudes: ajudar a pessoa a resolver os obstáculos que ela coloca, ajudá-la a perceber se o obstáculo realmente está ali e precisa ser resolvido ou então questionar a necessidade dela de colocar obstáculos. Geralmente esta última é mais útil para a pessoa porque a faz refletir sobre possíveis ganhos secundários que a pessoa está tendo em manter as coisas do jeito que estão – mesmo que ela deseje mudar.

    E você? Merece esta mudança que está querendo fazer?

    Abraço

    Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br

    Comentários
    Compartilhe: