• 30 de agosto de 2013

    Censura

    – Não sei se consigo mais.

    – Porque?

    – Estou cansado de tentar cara… eu me sinto muito mal se faço ou se não faço. Se eu não faço acho que deveria ter feito e se faço me sinto mal por fazer.

    – Entendo. Que emoção é esse “sinto mal por fazer”?

    – Sei lá, é como se eu estivesse cometendo um crime e fosse culpado por isso saca?

    – Claro

    – E daí ao mesmo tempo, porra: é só o que eu quero fazer meu! Não precisava ser desse jeito!

    – Não, não precisava. Me diga: que crime você está cometendo?

    – Sei lá… ser eu mesmo?

    Muitas pessoas se sentem “presas” como se não devessem ou não pudessem fazer o que querem. O que acontece? Porque algo tão simples quanto o desejo de ser feliz ou de fazer algo bom para si torna-se um problema para alguns de nós?

    Obviamente muitas respostas podem ser dadas para resolver esta questão, vamos explorar uma delas.

    Algo que vejo com uma certa freqüência no consultório são pessoas que aprenderam a censurar as suas próprias ideias, valores e desejos. Um ato, muitas vezes aprendido com os pais ou com um tutor e que a pessoa passa a reproduzir com uma perfeita semelhança. A atitude básica é a de desejar algo, imaginar alguma coisa para fazer e então começar um processo sistemático de censura deste desejo. A pessoa pode fazer isso de várias formas: pode imaginar as pessoas ficando braba com ela ou desaprovando o que ela fez ou quer fazer, pode pensar que ela seria mais importante em outra atividade, que ela não merece fazer aquilo por algum motivo qualquer, pode dizer-se coisas negativas sobre ela ou sobre o desejo de modo a querer se afastar do desejo, pode lembrar-se do pai, mãe ou figura importante que lhe ensinou a censurar e imaginar essa pessoa censurando.

    Uma vez que a pessoa inicia este processo geralmente ela termina em dois caminhos: o primeiro – mais óbvio – é se afastar do desejo, o segundo é fazer e depois culpar-se por ter feito o que desejava. Tanto um quanto o outro geram uma sensação interna de pressão e culpa muito intensas que a pessoa tem que manejar de alguma forma. Uma válvula de escape é a depressão, na qual a pessoa sucumbe e não consegue mais desejar; outra muito comum é começar a servir aos outros muito mais do que a si próprio. Tanto uma quanto a outra, com o tempo, fazem a pessoa “desaprender” a desejar e é muito comum que a sensação de “preguiça” venha quando a pessoa quer fazer alguma  coisa ou pensa em fazer algo; quando não a preguiça temos a culpa e o medo. A culpa é como se ela estivesse devendo algo para alguém ao desejar, o desejo fica associado à algo errado; o medo, torna-se óbvio no mesmo contexto, só que ao invés da culpa a pessoa deseja apenas não ser punida, a expressão “desculpe por existir” resume a sensação de uma certa forma.

    É importante aprender a observar de forma precisa a censura: seu conteúdo – o que a pessoa se diz ou pensa -, a forma pela qual ele aparece – é algo que eu me digo, imagino meu pai dizendo isso para mim, me dá uma sensação ruim -, e a nossa reação frente à isso – minto e faço mesmo assim sentindo culpa depois, não faço, finjo para mim mesmo que o desejo não é tão importante? Observar nossas reações nos ajuda a perceber como a censura está estruturada dentro de nós e esse é o primeiro passo para possíveis mudanças.

    Uma delas ocorre quando as pessoas começam a olhar o conteúdo do que se dizem e percebem que ele não faz muito sentido para a pessoa hoje. Algumas vezes ficamos com ideias que nos parecem tolas, mas como não as questionamos continuamos seguindo-as e deixamos que uma ideia inadequada seja a linha mestra da nossa vida. Outra ocorre quando a pessoa percebe que ela tem que se dar a “liberdade” ao invés de esperar que alguém venha fazer isso por ela, outras podem ser comportamentos como aprender a dar limites aos outros.

    Quando este processo começa a pessoa vai para um outro ponto: começa a valorizar suas necessidades e desejos e com isso passa a agir em prol da melhora da sua qualidade de vida. Obviamente isto também pode tornar-se um ciclo virtuoso – e esse é o objetivo final – dentro do qual estar bem e fazer o bem se tornam os principais objetivos.

    Abraço

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