• 10 de abril de 2014

    Falar com pedras

    – Mas Akim, eu já te disse: com ela não tem papo!

    – Como assim?

    – Ela não escuta sabe? Não quer conversar!

    – Entendi. Como isso chega para você?

    – Pô, falta de respeito e de interesse né?

    – Sim. Porém, o que mais isso pode significar?

    – Como assim?

    – O que a falta de respeito pode significar nessa relação entre vocês?

    – Hum… não sei…

    – O que ela quer dizer com a falta de respeito?

    – Que ela não se importa… que… ela manda? Algo assim eu acho.

    – Algo como se fosse: “se não for do meu jeito…”

    – É… assim mesmo… sabe, desmerecendo aquilo que eu quero.

    – Perfeito, agora: como você reage à isso?

    – Ah meu, fico muito puto, mas fico querendo mudar ela sabe?

    – Sei sim. E se ao invés disso você simplesmente reagisse à esta mensagem?

    – Hum… seria mais direto ao ponto não é mesmo?

    – Claro que sim e, quem sabe, com menos dor pra ti.

     

    Muitos clientes me perguntam como conversar com uma pessoa que não quer conversar. Este post é para vocês.

    Em primeiro lugar é importante compreender uma coisa: a fala é uma das maneiras que temos para comunicar. Existem muitas outras formas de expressar uma ideia, um sentimento ou um desejo além da fala. A questão é que muitos de nós somos viciados na linguagem e precisamos ouvir exatamente as palavras precisas para termos ideia do que o outro quer dizer.

    Assim sendo, a pessoa espera, ansiosa que o outro “diga” alguma coisa. Ele faz isso porque parte da seguinte premissa: “o outro sabe o que dizer, apenas não quer me dizer”. Com esta premissa ele faz duas coisas: coloca no outro um conhecimento sobre o que vai ser dito e torna-se dependente da palavra do outro. Porém, aqui cabem três perguntas: e se o outro não souber o que dizer e nem como? Você realmente tem que esperar, sempre, pela palavra do outro? Onde fica a sua intuição, por exemplo?

    A premissa de que o outro sabe sempre o que dizer é muito perigosa primeiro porque ele pode não saber, segundo porque falar sobre um determinado assunto pode ser algo que o outro não deseja. Assim sendo é muito importante cultivar uma outra premissa: podemos falar sem usar palavras. De que maneira podemos fazer isso? Com comportamentos, por exemplo. Um ato vale mais que mil palavras ou imagens, contra atos não há argumentos são algumas das formas de pensar nisso.

    O que o comportamento da pessoa comunica? Esta pergunta é fundamental e tem duas formas básicas de ser respondida: a primeira é mais direta, ou seja, quando perguntamos algo para a pessoa ela age de uma forma que dá uma resposta à pergunta mesmo que ela não tenha dito nada. “Perguntei se ela queria ir comigo no jogo, ela me olhou, de um risinho e se sentou na frente da televisão para assistir a novela”. A resposta, num caso como esse é óbvia: “não, não quero ir no jogo”.

    Uma outra forma é mais indireta e ocorre quando precisamos verificar a sensação que a resposta do outro causa em nós assim como o nosso comportamento em relação à resposta do outro e como ele vai reagir à nossa reação (complexo não?). Às vezes um silêncio causa raiva como resposta, em outro momento causa uma preocupação com o outro; por exemplo: a mulher pergunta ao marido o que ele acha de ter mais um filho e sempre vem um silêncio o que causa raiva nela. Depois de muitas brigas por causa disso o marido resolve perguntar para a mulher o que ela acha e ela responde com um silêncio que deixa o esposo preocupado.

    No mesmo exemplo, quando o marido faz um silêncio a esposa pode entender isso como uma mensagem que diz “não quero falar sobre isso” e ela começa – com o tempo – a irritar-se porque para ela é um assunto importante. A raiva vem quando o silêncio começa a ser entendido como “não consigo falar sobre isso” e a esposa, então, fica com raiva e briga com o marido que não quer falar sobre o tema. Esta reação – a raiva e a briga – fazem com que o esposo sinta-se culpado e corra atrás dela para apaziguá-la.

    Neste caso temos o silêncio entendido como “não quero falar sobre isso” que se torna ao longo do tempo “negligência” e é respondido com brabeza que significa “distância”. Esta última torna-se arrependimento e o esposo corre atrás para concertar a relação. Da mesma maneira todos nós temos situações nas quais o nosso comportamento fala por nós ao invés das palavras. Um silêncio, frieza, excesso de ligações, falta de ligações, desinteresse, enfim, todo e qualquer tipo de comportamento tem um valor de comunicação e essa é, por sinal, uma premissa básica da comunicação humana.

    Como falar com pedras? Entendendo que o comportamento também fala e aprendendo a conversar com comportamentos.

    Abraço

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