• 20 de agosto de 2014

    A imagem social

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    • Mas não tenho me sentido muito bem não.

    • Em que momentos você não se sente bem? Porque você tem me dito que sai e se diverte.

    • Eu não me sinto bem… nossa… parece até meio estranho isso, mas quando eu fico em casa e vou dar uma olhada no face!

    • Ah é? Porque, o que ocorre?

    • Cara… eu fico vendo as fotos das pessoas fazendo um monte de coisas…

    • E? Você também está fazendo…

    • Sim… mas… daí parece que elas estão se divertindo mais que eu sabe como?

    • Ah… e como você sabe que estão?

    • Não sei né?

    • Não, e mesmo que estivesse, quando que começou a competição de “quem se diverte mais”?

    • Hum…

    • Será que você não está um pouco inseguro em relação ao que tem feito?

    • Pode ser…

     

    As propagandas que nos vendem carros, viagens e sonhos tem um poder devastador sobre algumas pessoas que ou não podem comprar estes produtos e serviços ou querem comprar todos os que veem pela frente, de maneira que sempre sentem que está “faltando algo”. O mais novo produto e canal de vendas é a imagem vendida pelas redes sociais.

    Vários artigos já exploraram a ideia de que as redes sociais são, na verdade, um grande mercado no qual se vende de maneira apelativa o seu dia a dia, começamos já a perceber o como isso afeta as relações assim como a auto estima das pessoas. Muitas pessoas apenas sabem que tem uma vida boa porque tudo o que é compartilhado recebe curtidas e, com isso, sabem que estão no caminho certo. Posts que não são curtidos são deletados como ouvi uma vez de uma pessoa “se ninguém está curtindo, pra que deixar lá?”.

    A pergunta é boa. Se o seu interesse em redes sociais é ser curtido – e quem não tem este interesse – um post que não gera curtidas é propaganda negativa e deve – realmente – ser eliminado, pois gera o perigo de que as pessoas ao verem aquele post ali retirem crédito do seu perfil. Porém se a sua ideia é a auto expressão a coisa muda de figura, pois o seu perfil é seu.

    Sustentar esta noção, no entanto, é algo altamente custoso, pois envolve a possibilidade de perder o crédito social. Na era atual isto recebe uma lente de aumento visto que o “fator social” é cada vez mais apelativo e forte na vida das pessoas. Aprender a viver uma vida auto expressiva na qual o apelo social faça parte, porém não defina é algo muito mais complexo hoje de que já foi antes.

    A insegurança em relação àquilo que se faz, à sua maneira de viver a vida é um fator que complica esta situação. Quando a pessoa tem dificuldades em assumir o que faz ela começa a buscar fora da sua própria experiência referências. Se a sua rede de contatos, por exemplo, for muito diferente dela ou se ela ver algo que ela não faz – e não gosta de fazer – sendo muito apreciado pelas pessoas pode sofrer com muitas dúvidas em relação à sua própria vida.

    Aprender a sentir em si os efeitos daquilo que fazemos para nós é um fator fundamental para o crescimento. É sabido já que muitas decisões certas trazem dor ao invés de prazer e isso é um fator que é importantíssimo de se saber visto que a maior parte das pessoas foge da dor – por motivos óbvios. Assim este “sentir” não trata apenas de sensações físicas de prazer e dor, envolve, também um aspecto moral que a pessoa consegue sentir somente em retrospecto, ou seja, é só depois de um período de tempo que ela vai olhar para trás e saber que fez o correto e, a partir disso, sentir orgulho daquilo que fez. Numa era em que queremos prazer imediato à todo custo – e que é enaltecido como valor e referência do “correto” – torna-se difícil organizar sentimentos morais de maneira adequada.

    Assim as redes sociais mexem com nossas percepções de estar vivendo a vida de maneira adequada ou não na medida em que não temos parâmetros próprios para julgar a vida que levamos. Quanto mais temos nossos parâmetros, confiamos neles de maneira que sabemos sobre os resultados os quais eles nos trazem, menos precisamos buscar parâmetros externos ficando menos à mercê daquilo que vemos. Isso não significa fechar as portas para o mundo, mas sim usar esta informação de uma maneira mais sábia: você não precisa fazer tudo o que todo mundo está fazendo para ser cool, mesmo que isso seja o que se diz por aí.

    Abraço

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