• 2 de fevereiro de 2015

    Definir-se

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    • Não vou fazer o curso.

    • Ah é, porque?

    • Ah, é que meu pai tá me enchendo para fazer sabe?

    • Sei… bem, não chega a ser exatamente um motivo não?

    • Ah meu, é o suficiente.

    • Se você tivesse 14 anos concordo… mas você está com 21 já, não seria momento de uma atitude mais madura?

    • Orra…

    • Orra… depois vai dizer “aí, deveria ter ouvido meu pai”.

    • (silêncio com cabeça baixa)

    • Vamos lá meu caro, não é que você tenha que fazer o curso, mas dar à você mesmo, um motivo adequado e um norte pra ti!

    • Entendi… é que é difícil sabe?

    • Sei, mas deixar isso de lado só vai deixar cada vez mais difícil…

     

    Sempre digo que a pergunta “como expressar quem somos” é mais complexa do que definir quem somos. Uma está ligada à outra e a primeira significa a execução de uma ideia que nem sempre conseguirá se expressar da maneira previamente pensada, então exige um novo refletir, aquisição de competências, percepção do meio ambiente em que se encontra e avaliação de resultados. É uma tarefa árdua, porém o preço da liberdade é a eterna vigilância.

    Existem dois momentos importantes deste processo, o momento que eu brinco no consultório que é o momento “modernista” (Não sabemos o que queremos, mas sabemos aquilo que não queremos) que se traduz nos momentos em que os filhos usualmente começam a não desejar mais obedecer os preceitos da família, desejam criar a sua própria identidade, é um momento de antagonização, ou seja, um momento de luta contra o que estava previamente estabelecido, de falar do que há de ruim no “sistema atual”.

    O segundo momento é aquele em que a pessoa precisa formar algo próprio, ou seja, fazer escolhas e se comprometer com elas. Neste momento não basta dizer  o que não deseja, mas sim afirmar aquilo que se quer. Esta fase é mais realista e precisa que a pessoa, como disse acima, tenha aprendido a avaliar ela própria assim como sua vida e atitudes. Este momento não antagoniza, mas sim cria, avalia, é atento, perspicaz e busca por respostas para perguntas, é um momento de criação de formas e competências.

    Atualmente as pessoas andam um tanto confusas sobre isso porque desejam ser tudo. A ideia de comprometer-se com um determinado tipo de forma é assustadora porque a maior parte da população olha para as perdas que isso poderá ter, à saber, todas as outras escolhas. Porém, sabe-se na psicologia que um número maior de escolhas só é benéfico até certo ponto, depois disso prejudica a capacidade de decidir e a pessoa acaba se afastando. Em outras palavras escolhas em excesso são prejudiciais à nossa saúde – muito embora todo o discurso atual seja ao contrário.

    Assim, não é de se espantar, que cada vez mais as pessoas adiem decisões e sintam-se frustradas perante elas. Ao realizarem uma escolha e verem numa propaganda uma pessoa feliz com uma outra opção o coração já palpita “terei feito a escolha errada?” Neste sentido este post vem para dizer: “não”. Mais importante do que fazer uma escolha é a maneira pela qual você irá viver esta escolha. A ilusão que se vende é que existe uma escolha – ou mais de uma – que tornará a sua vida perfeita, porém a sua vida será bem vivida não por causa da escolha em si, mas por causa da maneira que você irá ou não viver esta escolha.

    Desta maneira a escolha realizada pela pessoa precisará ser expressa no mundo, vivenciada. Neste momento a pessoa irá entrar em contato com outras pessoas, com tarefas e com a realidade social. Todas estas experiências vão trazer o que Stanley Keleman chama de “desafios à forma” e estes desafios são benéficos porque são eles que oferecem à “forma” a possibilidade de “testar-se” e definir-se no real. Ou seja, é como pintar um quadro, você pode ter a ideia, mas realizá-la é o grande desafio. E é neste processo de realizá-la que o seu projeto vai definir-se de fato, porém é quando estes desafios surgem que as pessoas, em geral, largam seus projetos.

    Assim sendo lembre-se: mais importante que o projeto em si é como você irá lidar com ele à ponto de torná-lo real, vivo e bem vivido para você.

    Abraço

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