• 14 de setembro de 2015

    O medo bem vindo

    – Sabe Akim, tenho me sentido apreensivo.

    – Com o que?

    – Não sei… na verdade, não é nada em específico.

    – Hum, com o que pode ter a ver então?

    – Eu estava pensando… tenho ficado mais leve ultimamente.

    – Sim.

    – E estou achando que esta apreensão tem a ver com isso sabe?

    – De que maneira você está ligando as coisas?

    – Eu acho que é um medo, medo de estar me desfazendo da minha tensão entende?

    – Como se você estivesse receoso em “abandonar” a sua defesa?

    – Tipo isso.

    – Ou, os medos que aquela defesa “jurou” proteger se manifestando quando ela começa a ser desmontada?

    – É… bem isso.

     

    Um tema pouco explorado, mas extremamente comum em relação ao medo é que ele pode ser um bom sintoma. Em muitos casos quando o medo surge é sinal de que a pessoa está lidando bem com sua neurose, aprendendo a se desvincilhar dela. Mas, porque a pessoa sente medo de algo supostamente “bom”?

    Em primeiro lugar é importante compreender porque nos defendemos emocional e psiquicamente. A nossa vida é composta por desafios internos e externos. Quando um desafio surge é necessário desenvolvermos competências para lidar com eles. Porém, algumas vezes, os desafios são intensos demais ou prolongados demais – e nós despreparados demais – então, aprendemos a nos defender. A defesa é uma maneira de mantermos nossa integridade com os recursos emocionais e psíquicos que temos disponíveis.

    Defender-se, então, é algo “bom”, ou seja, possui uma função de manter e proteger a integridade do organismo. O que ocorre, é que muitas vezes com os recursos que temos a defesa que organizamos tem um custo que nos priva de outras possibilidades de desenvolvimento. Junto com isso, como a defesa funcionou uma vez, a nossa tendência é manter o comportamento. Então temos uma solução que embora nos limite, nos protege e mantemos esta solução para que evitemos problemas.

    Quando um processo de terapia se inicia, muitas vezes é porque esta defesa atingiu um “limite funcional” ou seja, os novos desafios da vida precisam de mais respostas e a defesa criada anteriormente não dá conta daquilo tudo ou está atrapalhando o desenvolvimento de novas competências.

    Durante o processo a pessoa aprende novas maneiras de lidar com o mundo e consigo mesma. A velha resposta começa, lentamente, a se perceber desnecessária e a pessoa começa a pensar que não mais precisa da sua velha defesa. Quando isso ocorre, ela começa a desorganizar a resposta antiga, porém, ao fazer isso, a pergunta que seu inconsciente faz é “vai se livrar de algo que funcionou tanto tempo? E se “x” acontecer?”.

    Nesse momento o medo aparece “do nada”. Este, no entanto, é um medo “bom” (não que os outros sejam ruins). Bom pelo fato de que ele está se apresentando como que para “expurgar” algo, para limpar. E não é apenas a defesa, mas principalmente aquilo que gerou a defesa. Como assim?

    Ocorre que para eu manter uma resposta por um tempo muito longo, preciso manter o aprendizado durante um tempo muito longo. E se o aprendizado é, na verdade, errôneo? Ou disfuncional? Ou foi importante numa época, mas agora não é mais – ou até atrapalha?

    Por exemplo: uma pessoa aprende que tudo o que faz é ruim e mal feito, aprende a defender-se tornando-se uma pessoa pouco expressiva. Na terapia pode aprender que tem o seu valor, que o que faz é importante e, com isso aprender a se expor. Porém este aprendizado pode lhe causar medo, visto que deverá contrapor o aprendizado passado o qual é disfuncional. Assim, ela irá limpar esta ideia compreendendo, por exemplo, que seus pais não sabiam lhe valorizar (assim como, talvez, nunca foram valorizados) e esta nova percepção irá lhe permitir limpar uma memória dando a ela um novo significado que, agora, pode ajudá-la a ter uma vida mais completa e rica – e talvez a ajudar seus pais.

    Quais os medos que você precisa limpar em você?

    Abraço

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