• 7 de novembro de 2016

    Vá com medo

    – Eu não sei direito o que eu devo fazer.

    – Não sabe? Como que não?

    – Ai… tá… eu sei que deveria me abrir mais com as pessoas.

    – Sim, o que fazer você sabe, qual o problema?

    – Eu tenho medo de fazer isso.

    – Sim, tem sim. Qual o problema?

    – Eu não deveria me sentir bem com isso?

    – Poderia é a palavra certa, mas não se sente. O que você sente é medo, então vai ter que ir com o medo mesmo.

    – Mas como?

    – Oras, o medo não é impeditivo da ação!

     

    Sentir-se confiante é uma meta culturalmente imposta. Colocamos que a confiança naquilo que pretendemos deve vir antes de tudo. Porém, será possível ter esta sensação de confiança sempre que começamos uma nova empreitada?

    A resposta é não. Na verdade, embora a cultura nos diga que deveríamos sentir confiança e tranquilidade ao enfrentar nosso destino e escolhas, a realidade é que boa parte das pessoas sente ansiedade, medo ou insegurança quando se lança em uma nova empreitada. E quer saber? Que bom que elas sentem isso.

    Pode parecer chocante eu afirmar que essas emoções são boas quando comparadas com a tão almejada confiança, porém, se prestarmos atenção à função das emoções e não apenas aos efeitos corporais que elas provocam torna-se fácil compreender porque elas são bem vindas.

    O medo, ansiedade ou insegurança fazem parte de uma mesma “família” de emoção. Elas são relativas à percepções de futuro onde prevejo algum problema e sua função é nos organizar para buscarmos proteção, confiança e segurança. A maneira pela qual estas emoções agem em nós tende a nos deixar mais atentos ao nosso meio, prestarmos mais atenção nele e buscar mais informações. Quanto mais aceitamos o medo em uma situação desconhecida, mais aprendemos com ela.

    A busca pela evitação do medo, em geral, se dá porque a pessoa não aceita sentir esta emoção. Ela crê que precisa livrar-se dela para enfrentar o seu destino, ledo engano. Na verdade no momento em que aceitamos o medo e partimos para o novo com ele, também se faz a percepção de que, de fato, não conhecemos o lugar para onde estamos indo e, por isso, ele é potencialmente perigoso.

    Vamos falar um pouco, agora, sobre a confiança. Assim como a sensação de segurança, a confiança é uma emoção de passado, ou seja, só posso me sentir seguro depois de ter executado alguma coisa e não antes. As pessoas que buscam por segurança antes de agir, na verdade, buscam por certezas e isso é algo que não encontramos no futuro.

    Por outro lado, existe uma relação interessante entre o medo, ansiedade e insegurança e a confiança. O medo é a base da confiança e da segurança. Essa informação pode soar estranha, mas é apenas quando afirmamos o sentimento de não conhecer onde estamos pisando e ficarmos ansiosos e inseguros em relação à este lugar que vamos aumentar nossa percepção sobre ele e, com isso, aprender sobre ele o que vai nos guiar em direção à confiança.

    Portanto, o “resumo da ópera” é que se você deseja sentir-se confiante, entenda que isso vai se dar com a experiência e não antes dela. Vá com medo ou com insegurança porque são emoções naturais dentro do contexto de ir em direção à algo novo ou à um desafio. Não é necessário não sentir medo ou negar o medo para vencer, pelo contrário, se você permitir que ele faça sua função que é lhe defender, você irá aprender como lutar com seus desafios e isso é o que lhe trará a desejada confiança.

    Abraço

     

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