– Pois é, agora que estou percebendo que diminui muito!
– Que bom não é mesmo?
– Sim, na verdade, foi algo bem espontâneo, me lembro que eu chegava e pensava em fumar um; daí teve alguns dias que eu pensei “na real nem tô precisando”.
– Ó só que coisa! E porque você não estava precisando mais?
– Cara… não sei te dar uma resposta direta sabe? Mas tipo: minha vida nem está tão ruim mais! Daí pensei que eu podia dormir de boa.
– E conseguia?
– Sim, tanto que fiz isso altas vezes e fiquei bem tranquilo, não tinha aqueles sonhos horríveis.
– Então quer dizer que quanto mais a sua vida melhorou menos você precisou da droga para dormir?
– Sim.
– E o que melhorou na sua vida? E quero saber: o que você começou a fazer de diferente nela?
– Então, todas aquelas conversar que a gente teve: dar limite, me comprometer com o que eu quero, não mentir pra mim e tal.
– Muito bom né?
– Sim e com a faculdade agora tipo, eu quero ser bom mesmo sabe?
– Sei sim, que ótimo!
– Se é!
Uma metáfora muito útil para se fazer com as drogas é a metáfora da anestesia. É como se a droga funcionasse como uma espécie de anestésico para a alma.
Cada pessoa possui uma forma de anestesiar a dor emocional: algumas preferem letargia, outras querem ficar hiperativas, outra fantasiam; para cada perfil um tipo de droga – algo conhecido dos usuários, afinal não é por acaso que algumas pessoas “gostam” dos efeitos de um tipo de droga, mas não gostam dos efeitos de outra.
Efeitos. Este é um ponto importante para compreender, ninguém gosta de “drogas”, as pessoas consomem a droga pelo seu efeito, relacionar o efeito da droga com o tipo de motivação que a pessoa tem antes de usá-la é fundamental para compreender melhor o que ela está anestesiando e de que forma. Por exemplo: lidar com a tristeza é algo que pode ser feito de muitas formas: buscando esquecer da tristeza, tirá-la de cena e da consciência ou buscando tornar-se hiper forte para “dar conta” de “tudo aquilo”, a pessoa pode buscar pela letargia ou pela hiperatividade, cada um relacionando com tipos de drogas que promovem este tipo de efeito – por exemplo, maconha e cocaína.
Porque isto é importante? O problema da droga só se estabelece de forma mais agravada quando a pessoa possui uma dependência química da substância, neste caso é necessário um tratamento medicamentoso junto com um tratamento psicoterápico; o problema, no entanto, é que a dependência química muitas vezes avança “controla” a pessoa e é, de fato, muito difícil de resistir. Porém, quando temos uma questão que é de cunho emocional e psicológico – situações em que, muitas vezes, nem se entra com medicação, compreender estes gatilhos é que vai solucionar o problema de uma forma verdadeira. Ou seja, o problema mais forte não é o uso da substância, mas sim ajudar a pessoa a construir comportamentos com os quais ela possa viver a sua vida e vencer os seus problemas ao invés de precisar anestesiar a situação toda com drogas. O caso acima, por exemplo, foi um trabalho muito bacana com um jovem que aprendeu a “mostrar quem era” e defender seus sonhos e ideais, com isso pode começar a ter sonhos e sonos mais tranquilos e por isso não precisou mais usar para relaxar ou dormir, estava, finalmente em paz consigo podendo colocar a cabeça tranquila no travesseiro.
Quando uso? O que estou pensando e sentindo quando uso? Como esta droga “me faz bem”? O que acontece quando não a uso? Todas estas perguntas são úteis para ajudar a compreender a relação da dependência emocional com a droga. E a atuação precisa ser realizada sobre estes pontos, ou seja, é tornando a pessoa cada vez mais competente, estruturada e flexível emocionalmente que a relação com o efeito que a droga traz pode se diminuir. O efeito que a pessoa causa em sua própria vida tem que ser igual ou melhor do que aquele que a droga traz senão ela via manter-se nas drogas – por serem mais “eficientes”.
Aos familiares é importante alertar o seguinte: cada família possui uma forma de agir, um “jeitão” de ser. Este “jeitão” pode ajudar ou prejudicar a pessoa em tratamento com drogas e é importante a ajuda de um psicoterapeuta que dê orientações para que a família possa se organizar de uma forma a ajudar de fato a pessoa. Isso deve ser feito sempre em conjunto com o paciente e com o terapeuta, é muito difícil dar orientações de uma forma generalizada nesta questão.
Abraço
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