• 17 de dezembro de 2015

    Insegurança por atacado

    – Mas daí Akim? Eu tenho que lidar com isso sabe? Não posso querer viver minha vida dependendo dos outros.

    – Do que você estava falando mesmo?

    – Como assim?

    – Como chegou nesse tema?

    – Ah… (fica pensando um certo tempo) certo! Estava falando sobre o meu encontro.

    – E o que te deixou inseguro sobre ele mesmo?

    – Hum… bom, ela é mais velha e já trabalha.

    – Ok. Vamos ficar só com isso, que tal?

    – Mas o resto tem tudo a ver!

    – Tem, mas vamos ficar só com isso, porque ela é só ela e não “o-resto-da-sua-vida-que-precisa-ser-vivida-tendo-dinheiro-no-bolso”. Que tal me dizer algo importante sobre o encontro?

    – Tipo o que?

    – Gostou dela?

    – Hum… putz não sei dizer ao certo… mexeu demais comigo o negócio do dinheiro

    Quando falamos no tema da insegurança é muito comum ao terapeuta buscar compreender quais são os estímulos e eventos que fazem a pessoa sentir-se insegura ou ansiosa. Porém um estímulo que, muitas vezes, acaba sendo negligenciado é o próprio sentimento de insegurança que pode, muito bem, funcionar como um estímulo e deixar a pessoa “inundada” por ela.

    Em geral nos emocionamos com estímulos ambientais que despertam em nós reações complexas como a tristeza, raiva ou medo. Estas reações – que chamamos de emoção – despertam vários comportamentos, pensamentos e atitudes que estão associados com uma maneira de “responder” ao estímulo e à reação que ele provoca.

    Porém nem sempre o “estímulo emocionalmente competente” (EEC) é externo, ele pode ser interno. Pessoas com síndrome do pânico conhecem bem isso: a sensação de formigamento em qualquer parte do corpo pode ser sentida como um sinal de que a pessoa irá entrar em pânico o que muitas vezes ocorre pelo medo que a pessoa sente do formigamento.

    Assim como o formigamento uma emoção ou um sentimento podem ser um “EEC”. A raiva, por exemplo, pode ser um estímulo que gera outra emoção, como o medo. Uma pessoa que não lida bem com sua raiva, ao se perceber se enraivecendo num jantar pode ficar com medo de estragar tudo com um comentário desnecessário e procura se controlar para não sentir mais a raiva ou para se acalmar.

    No caso da insegurança, que é o nosso tema, imagine qualquer elemento que possa deixar alguém inseguro: uma discussão com o conjugue, apresentar uma palestra ou um encontro. Uma vez disparada o sentimento de insegurança é muito comum que a pessoa faça o seguinte exercício mental: inicia na situação (o encontro, por exemplo) e na sensação de insegurança, então ela toma a emoção de insegurança como um EEC e começa a pensar coisas como (no caso do encontro) “é claro que estou inseguro, essa mulher é demais para mim. Pensa: nem formado estou e ela já ganha dinheiro”.

    Deste ponto a pessoa está acessando memórias que comprovem o sentimento de insegura, porém isso apenas aumenta a sensação e faz com que ela execute uma “penetrabilidade negativa”, ou seja, faça com que esta emoção negativa permeie todas as áreas de sua vida. Continuando, no mesmo exemplo, teríamos algo como: “pois é, meu pai que tem razão, não sirvo para muita coisa mesmo”. Perceba que o assunto “encontro” já se foi à muito tempo, a pessoa já embarcou em “vida profissional”, foi para “vida familiar” e está à beira de ter uma crise existencial.

    Com isso o que ocorre é que a pessoa junta inúmeras evidências do sentimento de insegurança e passa à querer resolver tudo ali e agora. Em geral as pessoas não percebem esse comportamento de querer resolver tudo ali e agora, mas elas, muitas vezes, o fazem. A partir daí temos além da insegurança a sensação de sobrecarga e o eventual fracasso do encontro porque a pessoa está mais preocupada em resolver problemas pessoais do que em se encontrar com a pessoa que está à sua frente naquele momento.

    Uma das maneiras que temos para lidar com essa verdadeira roda da tortura é aprender a perceber o momento em que se passa de um tema para outro e frear esse comportamento. Parece complicado, mas não é, torna-se apenas uma questão de prática. A pergunta é simples (pegando o exemplo do encontro) “O que dinheiro tem a ver com encontro?”. Obviamente que podemos criar links entre um tema e o outro, mas a ideia desta pergunta é deixar a pessoa focada no que está acontecendo neste momento (uma das características reconhecidas da insegurança é sua presença sempre no futuro).

    Este primeiro passo segue o segundo que é: sobre o que estou vivendo agora, o que me deixa inseguro? No caso acima pode ser algo do tipo: me acho menor que ela. Perfeito. Terceiro passo: respire fundo e imagine que pode tirar este pensamento de sua mente e colocá-lo em cima da mesa, por exemplo. Como se “me achar menor que ela” pudesse ser um boneco de argila para ser colocado em cima da mesa, anotar também ajuda. Enquanto respira, buscando se acalmar e projeta o EEC (ou mais de um, sempre com foco no momento presente) de sua insegurança você pode se dizer algo como: “depois eu vou trabalhar com isso, porque não vou resolver agora. Nesse momento vou com quem sou hoje”.

    Esta técnica não visa resolver o que te causa a insegurança, mas sim dar uma forma viável para lidar com isso além de fazer com que você possa viver o momento presente da melhor forma possível. Obviamente é importante, depois, lidar com o que te faz inseguro, mas no momento em que a situação está acontecendo, não adianta se cobrar disso.

    Abraço

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