• 28 de março de 2016

    Negação

    – Nossa… agora que eu percebi.

    – Percebeu o que?

    – O porque eu estou com raiva de você hoje.

    – Ótimo, porque?

    – Eu não quero falar sobre minha mãe.

    – Porque não?

    – Porque eu não sei o que fazer com ela… se eu falar disso, vou ter que fazer algo.

    – “Isso” o que?

    – Merda.

    – Merda?

    – Sim… é que… (os olhos enchem de lágrimas) eu gosto dela… mas não sei como lidar com ela… daí eu me afasto, mas não queria ficar assim…

    – Ah, entendi…

     

    A negação é um mecanismo de defesa psíquica. É comum pensar na negação como algo “essencialmente” ruim, porém, como o nome diz, ela é um mecanismo de “defesa”, ou seja, serve para nossa proteção. Como aprender a usar melhor este mecanismo?

    Em termos simples, a negação retira da consciência algum elemento, evento, pensamento ou emoção que pode causar um conflito grande demais para a pessoa dar conta naquele momento. Esta “retirada” funciona em graus, algumas coisas são retiradas de forma muito brusca e completa, enquanto outras pairam à margem da consciência.

    Aquilo que é negado, no entanto, continua de certa forma operando inconscientemente na mente da pessoa. Um pensamento pode não se fazer presente e mesmo assim influenciar a vida de alguém, um comportamento pode ser negado, mas quando ocorre, ele traz consequências. Negamos não no intuito de nos confundir, mas sim, naquele de não dar conta daquilo que é negado.

    Assim sendo, o primeiro movimento que fazemos ao perceber que estamos negando é, paradoxalmente, negar novamente. Algo como: “não… eu não posso estar negando isso”. Este momento é perfeito para que você faça o contrário do que sua mente lhe manda fazer, que é esquecer novamente, e atacar a questão com uma pergunta: o que me faria negar isso?

    Esta pergunta lhe conduzirá para compreender o que move a negação. Teria respostas como: “se eu pensar que isso é verdade (o que está sendo negado) eu teria que… enfrentar o meu pai e dizer umas coisas para ele”, ou “é que eu não gosto de ter que falar em público mesmo”. Estas duas respostas são “válidas” enquanto motivos de negação porque falam sobre algo que a pessoa (1) não quer, (2) não gosta, (3) não sabe como fazer ou (4) tem medo, aversão.

    Com esta resposta em mente você pode dizer-se que pensar sobre isso não o obriga a tomar decisões e agir. Este é um ponto de “meio-termo” entre negar e agir. Aceitar o conteúdo negado e a consequência dele é que pode ajudar você a criar estratégias, evoluir seu pensamento e aí sim, conseguir lidar com um determinado problema.

    Então, muitas vezes a negação é um ponto importante porque em determinados momentos a pessoa pode realmente não saber como lidar com uma situação e precisa “calar-se”. Negar é uma boa estratégia para isso, porém, com o tempo aquilo que foi negado por segurança pode tornar-se um fardo e a pessoa pode desejar, então, resolver o problema.  Passa a se incomodar com aquilo e, então pode confrontar o que foi negado.

    Perceber o que se nega, então, não deve ser encarado com vergonha, mas sim como descoberta. Os motivos para negar são sempre positivos: a proteção de nossa integridade. O problema é o custo disso à longo prazo, mas não precisamos resolver tudo com urgência, podemos resolver nossa vida enquanto a carruagem segue.

    Abraço

     

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