• 9 de setembro de 2016

    O bom e o importante

    – Mas Akim e se eu gosto?

    – Irrelevante.

    – Caramba! Como assim irrelevante?

    – Irrelevante oras, o seu gosto não tem nada a ver com o assunto que estamos tratando.

    – Como que não!?

    – Ora, é simples, você está falando sobre o que funciona para estudar, o que você faz e “gosta”, não funciona, simples assim.

    – Como você sabe?

    – Como estão suas notas e apreensão do conteúdo?

    – Péssimas.

    – Por isso.

    O que importa é bom? O que é bom é aquilo que importa? Afinal, há diferença entre  o que gostamos e o que é importante?

    Na cultura do consumo, a opinião ou o gosto do freguês é soberano, como dizem os franceses “le client es roi”. Porém, qualquer pessoa com um pouco de bom senso começa a perceber que essa exaltação traz mais prejuízos do que conquistas na vida prática. A questão de importância e gosto, é uma das baixas (militarmente falando) neste embate entre o consumismo e o bom senso.

    Ocorre que “gosto” tem a ver com preferências pessoais que se refletem de maneira sensorial, ou seja, através de um dos seis sentidos (sim, seis, considero aqui a propriocepção como um sentido). Quando se fala em gosto, buscamos compreender o que a pessoa aprecia.

    Por exemplo, quando alguém nos diz que gosta de jazz a pergunta correta não é “porque”, esta visa buscar uma causa para que a pessoa goste de jazz, porém isso não é necessário. A informação mais importante é obtida através da pergunta “o que você gosta no jazz”, a pessoa poderá, então, responder que adora o ritmo ou os acordes de determinado instrumento. Com estas informações podemos traçar um mapa daquilo que a pessoa gosta (este exercício é ótimo para quem não sabe dar presentes).

    A questão da importância é completamente diferente. Quando alguém nos diz que leitura é importante para ela, a pergunta correta é: “para que ler é importante para você?”. Algo só pode ser importante se servir para outra coisa, em outras palavras, a importância não é um fim em si mesma, mas, sim, um meio. Considero que ler é importante para obter informações e, com elas, sou um psicólogo mais eficiente.

    A importância de algo em nossas vidas se dá pelo tipo de vida que levamos e queremos levar. Assim não existem atividades que são importantes a priori, apenas aquelas que se tornam importantes à medida em que cumprem uma função, atendem à uma demanda ou possibilitam a realização de algo que desejamos.

    É possível que algo que gostamos seja importante para nós e vice versa. Uma percepção não anula a outra, porém as duas são diferentes. Na falta de percepção dessa diferença é que reside o grande problema de hoje, pois as pessoas creem que aquilo que gostam é igualmente importante, mas a realidade não funciona assim.

    No caso acima, por exemplo, a cliente tinha “hábitos de estudo” que não estavam melhorando suas notas. Recheou sua rotina de estudos de coisas que “gosta” como músicas, café e alguns alongamentos no meio do expediente. Porém, ela ficava tão focada nesses elementos que não estudava. Realmente importante, ou seja, algo que, de fato, causaria mudanças em suas rotinas de estudo era a capacidade de concentração.

    Assim sendo, não importava se ela gostava de tomar café e ouvir música enquanto estudava, enquanto ela não estivesse concentrada em seus estudos não iria para frente. Particularmente aprecio café enquanto estou estudando, mas a concentração é realmente importante, entre o café e a concentração, fico com a segunda.

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